SENADO - Luís Filipe Vieira é um homem inteligente, esperto e percebe o que é a vida e o que esta nos traz de bom e de mau. Soube crescer nos negócios, fazer amizades importantes, diversificar interesses e companhias, e tem capacidade para definir objectivos e a melhor estratégia para os atingir. Teve bons mestres e fez-se mestre. Como pessoa, é por vezes menos simpático (haverá alguém que o não seja aqui e ali?) e impositivo, mas é habitualmente afável, agradável, e é da sua natureza criar empatias seja com quem for e em qualquer ambiente.
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Conhece as pessoas, gosta de conviver, não vira as costas a ninguém (a não ser em circunstâncias extraordinárias, ou se alguém o quiser substituir), ouve o que lhe dizem mas tem a sua forma de pensar e decide pela sua cabeça. Por isso foi eleito e reeleito.
Tem, a meu ver, o perfil certo para o cargo de presidente do Benfica e grande parte dos sucessos recentes deste clube devem-se ao seu estilo e tipo de actuação. A menos que algo de muito mau ocorra nos processos judiciais, será reeleito sem dificuldades.
"O Benfica preza a estabilidade (nove anos, dois treinadores) e Rui Vitória é o treinador certo para lançar jovens do Seixal"
Posso testemunhar que, na derrota, manifesta fair play, não porque goste de perder, mas porque sabe que a um tempo menos bom hão de suceder muitos outros bons, ou não se tratasse do clube que é.
Contudo, às vezes não consegue disfarçar um "fatalismo" que procura contrabalançar com uma reacção enérgica. O caso da derrota expressiva em Munique mostra estas facetas de Vieira, que a entrevista em horário nobre transmitida em todos os canais (este país é tão engraçado...) evidenciou de forma clara.
Comecemos por aí. Talvez pela falta de descanso de uma noite passada em claro, a entrevista foi frouxa e longa demais. Bastava ter referido o essencial da sua estratégia: o Benfica preza a estabilidade (nove anos, dois treinadores) e Rui Vitória é o treinador certo para lançar jovens do Seixal, que permitirão ao clube continuar a crescer desportivamente e melhorar os indicadores financeiros. Por isso a sua decisão (que em qualquer clube organizado, é do foro do presidente) de manter Vitória. Os adeptos devem entender que esta estratégia permitiu ganhar internamente dois em cada três títulos e que a ambição é vencer sempre. Este é o futuro do Benfica, está correctamente delineado e não deve estar sujeito a cata-ventos, ambições pessoais ou devaneios.
Contudo, por muito que se esforce, o Benfica (como Porto, Sporting e os que conseguem ir às competições europeias) está muito dependente das receitas dessas provas. Veja-se o caso do Porto, que já encaixou mais de 65 milhões de euros e pode mesmo chegar aos 80 com alguma fortuna no sorteio.
É este o pesadelo de Vieira. Tomando a decisão de manter Vitória, contra tudo e todos e também porque não possui alternativa válida, tem plena consciência de que se ficar abaixo do 2.º lugar no campeonato, terá uma quebra de receita superior a 50 milhões de euros para a próxima época.
Com uma prospecção ineficiente e mesmo vendendo alguns jogadores mais talentosos, ao "estoiro" financeiro somar-se-ia a perda de competitividade desportiva.
O Benfica pode dar-se ao luxo de não ser campeão 2 ou 3 anos seguidos? Pode e já sucedeu. Mas o problema é que, doravante, só o campeão nacional irá à milionária Liga dos Campeões.
Menos 50 a 80 milhões de euros por ano de receitas? Esse é que é o verdadeiro pesadelo que faz perder o sono ao mais corajoso dirigente.
Vieira decidiu bem. Mas não sei se não virão aí muitas noites de insónia...