PLANETA DO FUTEBOL -Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 Terminou o longo campeonato brasileiro e, mais uma vez, um grande desceu de divisão. O Grémio vai juntar-se na Série B a outros grandes (Vasco da Gama e Cruzeiro) que, já tendo caído na época anterior, não conseguiram subir (proeza conseguida por outro histórico que também mergulhara nessas profundezas, o Botafogo).
Esta aterradora tendência, já vista como natural dos grande clubes descerem de divisão (nas ultimas épocas, também sucedeu com Fluminense, Corinthians ou Internacional), revela muito do estado a que chegou a gestão no topo do futebol brasileiro.
A maioria dos clubes vive em permanente desequilíbrio financeiro e instabilidade desportiva, na qual o despedimento dos treinadores é uma constante. O Grémio (que passou 37 das 38 jornadas do campeonato em zona de descida) teve quatro: Renato Gaúcho (que saiu em abril para o Flamengo), Tiago Nunes, Scolari e, por fim, caiu com Vagner Mancini, que ainda conseguiu fazer a equipa reagir. Quatro técnicos sem qualquer ponto de contacto, estilo e modelo, entre si.
2 A maior surpresa, no entanto, é que desta vez, ao contrário da maioria de outros casos, desce um grande bem estruturado, ou seja, financeira estável, mas sem política desportiva sólida (em rigor, o responsável pelo futebol era mesmo Renato Gaúcho, um treinador tornado supraestrutura pela sua história como herói do clube, desde o tempo de jogador, mas que nos últimos tempos já não conseguia chegar a todo o lado).
A equipa tinha jogadores de nome firmado, como Rafinha, Diego Souza, Geromel, Borja ou Douglas Costa (que regressara da Europa mas fez uma época muito fraca), só que nenhum capaz de saber sofrer numa luta pela sobrevivência (e não por títulos como estavam habituados), ao ponto de o onze só ter melhorado com a entrada de promessas como Elias Manoel (20 anos, avançado), Jhonata Robert (22), Ferreirinha (23) ou Campaz (meia colombiano, 21). Não foi a tempo.
3 Convém dizer que no Brasil a definição de "grande" (atribuída a doze clubes por todo o imenso território) nasce dos seus percursos históricos como dominadores dos maiores Estaduais do futebol brasileiro antes do nascimento de um verdadeiro campeonato nacional (só sucede nos anos 70).
O Rio Grande do Sul mantém, porém, duas equipas na I Divisão. O Internacional e, maior das ironias, o Juventude (de Caxias do Sul), clube que, tendo passado pela série C recentemente, sem a dimensão do grande Grémio, lutou com ele na ultima jornada. A verdade, porém, é que, com uma gestão mais rigorosa, soube manter-se sempre bem estruturado em campo e fora dele. Jair Ventura foi o treinador que o salvou, com uma equipa onde Capixaba mexeu no ataque e que teve no último jogo (1-0 ao Corinthians) o golo decisivo (penálti marcado sem tremer) pelo coreano Chico Kim (30 anos e toda a carreira feita no Brasil).
4 Dos grandes estados que ficam sem representação no próxima Série A está a Bahia e quem desceu foi mesmo o Esporte Bahia, que junta-se ao Vitória (que já estava na B e desceu à série C!). A crise do futebol baiano já se adivinhava nasúltimas épocas. Não existia suporte estrutural para manter investimentos tão altos. Sem política desportiva serena, também passou por três treinadores: Dado Cavalcanti, Dabove e caiu com Guto Ferreira, que vejo como um dos melhores técnicos no atual futebol brasileiro (tinha feito bom trabalho no Ceará) e esteve perto da salvação no último jogo. Da equipa ficam os golos de Gilberto (32 anos), um ponta-de-lança forte, com técnica e remate oportuno.
A descida confirmou-se contra a equipa-treinador sensação da época: o Fortaleza do argentino Vojvoda, que veio do Union La Calera do Chile para, pela primeira vez na história, meter o Fortaleza em 4.º lugar e na Libertadores, jogando um belo futebol e reinventando, aos 29 anos, o antes extremo de piques Yago Pikachu para ser um "carrilero" que fez toda a faixa direita. Um treinador que, nas próximas viagens nesta página do Planeta do Futebol, merece ser melhor analisado.