PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo
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Corona, Everton Cebolinha, Luiz Díaz, Pedrinho e, agora, a chegada iminente de Pepê. Jogam todos a partir das faixas, mas é difícil olhar para eles como extremos. Pertencem à nova casta dos chamados "avançados de faixa".
Analisando as diferenças, pode-se perceber os fatores para a maior ou menor afirmação de cada um no nosso futebol, neste momento. Esta é, também, uma visão perspetivando o "habitat" que Pepê irá encontrar no Porto e como o seu jogo irá sentir a mudança.
O futebol moderno condenou o extremo clássico, que jogava mesmo só nas faixas, essencialmente em velocidade e linha reta (com o ir "à linha" e cruzar bem como a sua tradicional jogada suprema) para dar lugar ao chamado "avançado de faixa". É também para onde os treinadores desterram os velhos n.º 10 que deixaram, taticamente, de fazer sentido no centro, com receio de comprometerem a segurança defensiva sem bola. Mas, em geral, o que essas posições hoje mostram são avançados multifunções/inteligentes a relacionar a faixa com as zonas interiores. Por isso, tantos jogaram com o chamado "pé trocado" (o destro na esquerda, e o canhoto na direita) para facilitar as famosas diagonais.
Nem todos esses movimentos são, porém, iguais. Há quem os faça para, chegado ao centro, procurar ângulo de remate. E há quem, chegado ao mesmo espaço central, pense mais como segundo avançado (ou 10 moderno) e procure sobretudo o passe e o chamado jogo "entrelinhas", isto é, entre a linha defensiva e a de médios da equipa adversária.
Detetando estas diferenças, identifica-se, em geral, o tipo de jogador, posicionalmente falando, que estamos perante. Um ala ou um segundo avançado, a figura híbrida que em vez de estar, de raiz, num espaço, prefere antes aparecer nele (e marcar a diferença).
Luis Díaz , o "agitador de ala" mais puro
Corona, Luis Díaz, Everton Cebolinha e Pedrinho são exemplares desta casta de "avançados de faixa" no FC Porto e Benfica, respetivamente. De todos, Luís Díaz será, pela natureza veloz e pelo estilo, o extremo potencialmente mais puro, no sentido clássico/vertical de saber correr na linha, usando as suas características inatas e construídas. Cresceu já neste novo mundo de maior "amplitude periférica" dos alas. Antes de chegar ao Dragão, jogara, na Colômbia, como segundo avançado.
Nota-se essa dupla capacidade na sua mobilidade ofensiva dentro do esquema do FC Porto, que, não jogando com extremos puros, pede-lhes sempre jogo interior (quem faz a profundidade "sobre carris" são os laterais a subir). É o que permite a Díaz ter essa liberdade de invasão de espaços.
Pepê , "clone" do estilo de "Cebolinha"
Com Corona capaz de fazer tudo bem (lateral, ala ou segundo avançado) e sendo, de todos, o melhor jogador no sentido de pensar, temporizar e fazer jogar a equipa (com execução técnica perfeita), Pepê irá dar à equipa maior criatividade de diagonais puras.
Trata-se de um jogador que quando pega na bola aumenta de velocidade e, após arrancar em finta, busca logo rapidamente espaço de remate, mais do que de passe. Tem um princípio de Brahimi e um fim de Cebolinha.
Nesse cruzamento é um jogador muito parecido com Everton. No estilo e até morfologicamente. Quando o substituiu no Grémio, muitos pensaram que estavam mesmo perante um clone. As dinâmicas individuais (metidas no coletivo) são exatamente iguais no atual jogo do Grémio. A adaptação de Everton no Benfica não tem sido fácil, mas tal sucede mais pela forma como a equipa joga, entregando o processo ofensivo a impulsos individuais (de mudança de velocidade ou de vertigem), quando ele não é isso.
Olhando o modelo de jogo do FC Porto, mais elaborado e mecanizado no processo ofensivo, Pepê irá encontrar um habitat técnico/tático diferente. Esse fator do jogo coletivo que o vai receber e a forma como Conceição trabalha os alas (no plano individual e do que lhes pede para o jogo da equipa) proporcionará, em tese, melhores condições para Pepê entrar no futebol português sem sentir o mesmo impacto adverso que, neste momento, ainda condiciona, na Luz, a explosão do talento de Cebolinha.
Pedrinho : A busca do "tempo"
Neste contexto, estabelecendo paralelos, Pedrinho será, mesmo que rotinado a jogar desde a ala (do Corinthians ao Benfica) aquele que mais se aproxima de um "segundo avançado", da tipologia de jogo do clássico médio ofensivo que joga nas costas do ponta de lança, com capacidade de passe e ruturas desde trás para furar e/ou rematar.
É o mais "levezinho" desta casta de jogadores. Um fator (físico) que na entrada no mais duro futebol europeu, aumenta a dificuldade de exteriorização do seu talento. Não duvido, porém, que se trata de um valor firme, mas a quem tem de ser dado (trabalhando especificamente todos esses fatores físico/táticos) tempo para crescer.