HÁ BOLA EM MARTE - Opinião de Gil Nunes
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Enquanto houver selva para andar, o leão vai continuar. O Sporting terminou em 4º lugar, algo que seria normal antes de Rúben Amorim. Se a desilusão permanente corre o risco da resignação, a tristeza pontual é um saudável benefício de um passado próximo em que leões somaram 85 pontos e estiveram sólidos como há muito não se via.
Se Amorim coloca o lugar à disposição, fá-lo porque esse tem de ser o papel do treinador do "novo" Sporting que criou. E, por aí, tem de receber um voto de confiança para continuar, mesmo que desnecessário. Porque o desafio, agora, até é contextual: criar condições para que os melhores quadros não debandem nas alturas mais improváveis, provocando rombos na estrutura planeada. Matheus Nunes sim, Porro nem tanto.
É claro que um 4º não traz Liga dos Campeões e carrega a pressão que Amorim destaca para a próxima temporada. O tal nervoso miudinho que faz com que todos os jogos sejam encarados com faca nos dentes. Porque, desde já, há que ganhar embalo para o que se segue.
João Neves: pedagogia da derrota
Se não consigo apresentar novas alternativas táticas, pelo menos mudo os intérpretes. Afinal, a derrota frente ao Chaves acabou por ser a melhor coisa que aconteceu ao Benfica, pois a partir daí Schmidt teve mesmo de mudar, pelo menos as peças dentro de um modelo estanque. Entrou em cena João Neves, que não desiludiu: determinante na tranquilidade do meio-campo, ligando os setores em conformidade e aparecendo em dois momentos decisivos: recuperação que permitiu a transição frente ao Braga e golo decisivo em Alvalade. O jovem médio disfarçou algo que foi evidente: em termos de jogo de banco, Schmidt está bem atrás de Conceição, Amorim ou Artur Jorge.
Ugarte: o gigante de Londres
Uma cobiça natural e justificável dentro do quadro de um jogador jovem - 22 anos - e ainda com tremenda margem de progressão. Porque, de facto, os atributos são muitos: robustez para os duelos físicos, capacidade técnica para sair de zonas povoadas e muita clarividência na altura de construir. Em Londres, diante do Arsenal, fez uma exibição de arromba, tendo sido um dos obreiros de um feito leonino que, no fundo, representou a segunda melhor coisa que podia ter acontecido ao Sporting na Liga Europa. Se a sua saída se concretizar não deixará de ser um excelente negócio para os leões, que vendem Ugarte por um preço bem mais alto do que aquele que custou.
Kiko Bondoso: pensamento rápido
A forma hábil e o pensamento rápido ficaram bem representados no passe para Osmajic e no golo do Vizela. Mas são situações que não são inéditas: na Luz, numa situação muito idêntica, também definiu de forma rápida a transição ofensiva que originou o golo da sua equipa. Mas Kiko Bondoso tem qualidade para muito mais: mesmo frente a equipas de maior envergadura, soube ser inteligente o suficiente para compensar defensivamente e, sobretudo, nunca fazer baixar o seu rendimento. Parece ter estrutura mental para desafios mais ambiciosos, cimentando o seu estatuto de um dos bons jogadores da primeira liga.
Play-off da permanência
Um duelo interessante entre duas equipas com história: Marítimo e Estrela da Amadora. Se os insulares tiveram uma época atribulada e só estabilizaram na reta final, a progressão "formiguinha" do Estrela é também assinalável. O play-off de permanência é uma medida inteligente e justa: emoção extra é sempre bem-vinda!