JOGO FINAL - Uma opinião de José Manuel Ribeiro
O Sporting completa amanhã uma sequência no campeonato vista pela última vez em 1971. Depois disso, nunca mais conseguiu um segundo e um primeiro lugar em épocas consecutivas até chegar Rúben Amorim, e esta é só a segunda vez em sessenta anos.
Uma rápida observação ao histórico no campeonato desfaz as dúvidas quanto aos méritos da segunda época completa de Amorim
O árbitro João Pinheiro, a que o presidente do grupo Stromp chamou ontem padrinho do título do FC Porto, nasceu em 1988. Para sorte do Sporting, quem teve de decifrar o enigma não foi Tito Arantes Fontes. Amorim fez uma revolução pacífica em Alcochete. Percebeu que faltava competitividade, tradição e alguma ronha, reduziu os jogos ao seu átomo, que são os duelos individuais, e encheu a equipa de atletas genuínos, intimidantes.
O Sporting tornou-se desagradável, trabalhoso para o adversário, inteligente em vez de idealista, e fez uma segunda época imaculada. Podíamos discutir a comunicação, na linha do pior que se fez na era PJG (pós João Gabriel), mas neste ponto já seria desonesto discutir culpas: venha de onde vier, somos obrigados a aceitá-lo como legítima defesa.
Apesar dos exageros, esta foi das melhores disputas de título que vi. Não me lembro de dois intelectos tão poderosos em simultâneo nos candidatos ao título. E se menciono os exageros, não é por falsos moralismos, mas porque nos roubaram tempo de jogo de duas grandes equipas. Sporting e FC Porto tentaram equivaler-se na tal ronha e numa agressividade exagerada, às vezes artificial, que pode ter tornado os jogos desconfortáveis para o adversário, mas desconfortáveis também para eles próprios. Aí sim, Amorim ter-se-á deixado influenciar, milimetricamente, por algum Tito Arantes Fontes, e acredito que percebeu o erro, materializado no campeonato perdido. Qualquer verdadeiro adepto do jogo já estará em pulgas pelo que se segue.
