PLANETA DO FUTEBOL - A análise e opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 - O momento em que, num jogo, mais se sente a intervenção do treinador é nos primeiros quinze minutos da segunda parte. Esse impacto está em, face à dificuldade de comunicação no jogo, os jogadores, após a palestra ao intervalo, entrarem com as indicações do treinador mais vivas, após ele as ter podido gritar como quis, diretamente olhos nos olhos, no balneário.
Há jogos em que um treinador tem de "jogar" mais do que outros, mas em nenhum pode deixar de "jogar bem" ao... intervalo, no balneário
A diferença de como o Benfica entrou na primeira parte (em intensidade alta a atacar) e na segunda (passiva e acomodado à vantagem de 0-2) faz pensar como terá sido a conversa de Lage e os jogadores nesse tempo. A forma fantasmagórica como a equipa reentrou ultrapassa questões táticas ou físicas (não mudou nada no sistema e não há razões para desgaste nessa fase). A questão situa-se na atitude competitiva. Em vez de reforçá-la para impedir o reabrir de um "jogo fechado", a equipa adormeceu no balneário. Em sono profundo, quando ia fazer uma tripla substituição, o 2-2 surgiu naturalmente.
Um "empate-derrota" que nasceu em quinze minutos no balneário e consumou-se em meia hora no relvado. Foram esses os segundos 45 minutos decisivos (a verdadeira segunda parte). Os outros quinze em que a equipa correu, cheia de jogadores na frente, foi sem cabeça e com a tática aos pulos. Em suma: um balneário, uma equipa, um intervalo, um enigma.
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2 - É clara a diferença entre o FC Porto sem Otávio e o FC Porto com Otávio (hoje o jogador taticamente mais versátil-inteligente a fazer desdobrar o sistema de 4x4x2 para 4x3x3, quer na criação quer nas compensações, ambas pelo meio). O jogo com o Marítimo mostrou isso. O 4x4x2 com extremos (Diaz-Corona) e dupla de pontas-de-lança "abre" bem o campo a atacar mas, por vezes, também o "parte" demais no centro e o adversário descobre espaço para contra-atacar.
Conceição sentiu o perigo e mexeu, ao intervalo, metendo Corona no meio e depois Uribe (assumindo o 4x3x3) mas sem o catalisador Otávio perde o poder transformador multidimensional de sistemas. Fica preso a apenas um. Assim, teve de ceder a "abrir" menos o jogo para o "fechar" melhor no núcleo central e segurou a vantagem ganha num gesto individual acima do jogo.
O Marítimo chegara concentrado mas bastou as marcações, por instantes, abrandarem num lançamento lateral junto à área e a bola foi logo parar às botas do maior "suspeito de genialidades". Num ápice, o remate desenhado de Corona levou a bola num arco longo preciso até ao golo. Com um "pacemaker coletivo", o FC Porto geriu fisicamente o jogo. Quem taticamente melhor souber "jogar cansado" terá, neste minicampeonato desconfinado, vantagem sobretudo a partir do meio das segundas partes.
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OBSERVANDO QUEM SOFRE
Aplicando a tese do treinador e impacto da sua ação ao intervalo, o outro lado do jogo de Portimão mostrou como Paulo Sérgio "jogou bem" nesse momento. Nos últimos minutos da primeira parte, aliás, já o víamos sentado no banco a rabiscar num bloco a estratégia e alterações para a segundo parte.
Depois foi tempo de a gritar no balneário e os jogadores entrarem com ela na cabeça: viu como defender melhor, metendo outro lateral para fechar a esquerda por onde Pizzi-Rafa desmoronavam a sua organização defensiva, viu como atacar melhor com Aylton extremo na direita e viu como ocupar melhor o meio, desfazendo o pivô posicional e soltando mais Dener, aumentando pressão e chegada. Virou, assim, o jogo de pernas para o ar.
A luta pela salvação irá prolongar-se até ao fim. Este Portimonense é das equipas que melhorou mais para este "minicampeonato" e, já se percebeu, que Paulo Sérgio busca outro nº9 (como Vaz Tê, mas sem ritmo de jogo, ou Beto, que entrou para chocar) face às limitações físicas de Jackson para um final de luta e mais físico.