O novo mundo: renovações impossíveis e empresários que já não sentem qualquer necessidade de respeitarem os clubes.
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O episódio do ou dos prémios de assinatura de Otávio (o relatório e contas do FC Porto não especifica) compôs a noite da CMTV, mas só tem dois significados.
O primeiro é que FC Porto chegou a um ponto do seu encurralamento entre as contas frágeis e a UEFA em que não foi capaz de renovar com um jogador fundamental (desportiva e/ou financeiramente) sem uma manobra contabilística.
O segundo é que essa fragilidade já permite a empresários apressados em receber criarem o caos sem medo de repercussões.
Foi o que aconteceu com o agente de Otávio, que conseguiu explicar a toda a gente que a verba equivalia aos salários do jogador nos quatro anos do novo contrato e, em simultâneo, levantar o mistério de haver prémios de assinatura desconhecidos que Otávio não recebera (porque, obviamente, os está a receber em forma de ordenado). O problema deste novo mundo em que o FC Porto acorda com um passivo pesado também é este. Empresários que se sentem, e muitas vezes até estão, acima dos clubes são um drama adicional quando a renovação de contratos se torna a principal dor de cabeça das administrações, como se não bastasse a disparidade de orçamentos com a concorrência inglesa, espanhola, italiana, alemã e francesa.
Ao contrário do que foi afirmado no profundíssimo debate sobre o tema, os quatro milhões de euros brutos que o agente (e os 16,7 milhões divididos por quatro anos) atribui a Otávio não são um salário assim tão excecional. Penso que, entre FC Porto e Benfica, haverá talvez 15 futebolistas a ganhar o mesmo e mais do que isso. Na época passada, Felipe Anderson (FC Porto) e João Mário (Sporting) auferiam mais do dobro, não sei com que contributo do West Ham e do Inter. Mas mesmo os quatro milhões brutos (cerca de dois milhões líquidos) são mais do que é seguro para um clube português pagar, apesar de serem um pagamento corriqueiro em Inglaterra e banal para seis ou sete clubes de cada uma das outras quatro grandes ligas. Desta vez, alguma coisa terá mesmo de mudar.