PLANETA DO FUTEBOL - A opinião de Luís Freitas Lobo
Corpo do artigo
1 - Se há afirmação que continuo a ouvir e tanto me perturba é quando, numa substituição, entra um jogador para a mesma posição do que sai e diz-se que foi "troca por troca".
Não colocar Mbemba à esquerda da dupla de centrais mostra como "troca por troca" é um mito! São as questões tácticas que decidem
É uma aberração que não existe no futebol porque os jogadores são todos diferentes. Troca por troca só se entrasse um "clone" e isso não existe. É fácil perceber: é o jogador que faz a posição e não a posição que faz o jogador.
Mesmo nessas que chamo "trocas posicionais diretas", não mexendo com estrutura, as dinâmicas mudam em função das características de cada jogador (e, consequentemente, o que o treinador lhes pede diferentemente em função disso). Criam-se assim como que "sub-dinâmicas".
2 - Por isso, quando Marcano se lesionou com gravidade e surgiu Mbemba para resolver o problema na lógica direta da "troca por troca", escrevi logo aqui que as coisas não podiam ser assim tão lineares e que se estava, muito para além dessa visão redutora, perante uma questão táctica. Porque Mbemba não tinha características para jogar como central pela esquerda.
Não era só a questão de não ser canhoto (como era Marcano), pois isso pode, na inteligência dos grandes jogadores, ser contornado. Era porque todo o seu jogo, ubiquação posicional, apoios ou traços técnicos, fazem dele um elemento multifuncional para fazer tudo entre o centro e a meia-direita (defesa-lateral a fechar e subir, médio-centro de cobertura, central de intercepção, dobras nas costas e em largura, atrás do lateral). Não o via a fazer o mesmo na esquerda. Pensava, também, no jogo da equipa, com laterais ofensivos a exigir-lhe muito esse cobrir das costas em largura.
Foi dos melhores momentos do Conceição-treinador da época. Decisivo para o titulo
3 - Sérgio Conceição terá tido a mesma percepção. Percebeu que nunca seria "troca por troca" e que era algo de implicação no colectivo (organização defensiva e suas referências). Assim, após o testar como central à esquerda, viu que era impossível a "clonização direita". Decisão natural: Mbemba central na direita e Pepe passa para a esquerda. Neste caso, ter a sabedoria acumulada de Pepe ajudou muito (mesmo tendo já passado o auge, sabe defender-se das limitações nunca expondo a equipa a elas) pelo que, mesmo desviado para um lado que nunca foi seu, garantiu a segurança básica. Registar, por si só, que o FC Porto não sofre golos há quatro jogos, não diz nada. Importante é ver como todo o processo defensivo global foi trabalhado a partir da visão de Conceição sobre a questão táctica entre colocar Mbemba à direita ou esquerda. Pensou, testou, avaliou e decidiu bem. Toda a equipa está implicada nisso. Foi dos melhores momentos do Conceição-treinador da época. Decisivo para o titulo.