PLANETA DO FUTEBOL - Tenho visto tratar esta fase como se fosse uma pré-época. Errado. É antes um... pré-final de época! Parece igual? É muito diferente.
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1 - Tem sido comum relacionar este período de preparação para um minicampeonato como fosse uma pré-época. Percebo a relação, mas não tem, no plano do jogo, nenhum ponto de contacto.
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Não se trata de construir nada de novo em termos de modelo de jogo (e seus princípios), ou criação do grupo em termos de interligação (humana e táctica) nem, claro, fazer uma nova equipa. Nada disto se coloca embora também tenha de existir, como numa pré-época clássica, um processo/período de adaptação. Este não será, no entanto, similar, porque após este interregno forçado, com férias atípicas, os jogadores vêm para a mesma equipa, o mesmo treinador, a mesma ideia de jogo, ou seja, todo o enquadramento macro é igual. Outra coisa seria virem desfasados do contexto onde se vão inserir (se alguns deles fossem novos ou os antigos fossem ter um treinador diferente). Nada disso se passa.
2 - O que não será a mesma coisa, é a questão física. Estes primeiros treinos de regresso, agravado pelo facto de não ser possível logo juntar o grupo, têm, assim, uma especificidade invulgar. Treinar (bem) sozinho não é fazer histórias para o instagram, nem mera musculação em máquinas. Feito o regresso, se for para andar a correr à volta do campo, os jogadores ficam logo desagradados. E deixam até de estar frescos fisicamente, mesmo estando... frescos (o estado natural porque eles vêm de um tempo de paragem). Mas, se lhes pedirem para fazer um jogo, peladinha que seja, eles jogam logo e alguns até nunca se sentiram tão frescos durante toda a mesma época (princípio ou no ponto em que ela parou).
Portanto, a questão física é um falso problema. Esse poderá estar é no cansaço posterior e então é que o treino tem de ter a qualidade em especificidade na rapidez de recuperação. Todo esse processo tem de ser em concreto para cada equipa, jogador, nada de abstrato.
3 - Não existe necessidade de criar afinidade com os princípios, mas existe necessidade de reavivar o jogo que os jogadores têm na cabeça (e nos pés) só que, com a paragem, poderá estar, no subconsciente, algo "adormecido". O mais natural é esse jogar estar no... consciente. Como, porém, não é só a cabeça que joga, mas o corpo/físico todo, a importância da visão de dimensão global táctica e emocional incorporada pela disponibilidade atlética é imprescindível para jogar bem com os hábitos/princípios adquiridos.
É tempo para o treinador e, sobretudo, preparador físico integrarem uma micro-realidade de preparação. Esta terá de ser, no entanto, sempre de memória sobre o jogo. Porque não é uma pré-época. É um pré-final de época. Parece igual? É muito diferente.
Substituir a equipa toda
Tenho assistido com admiração à opinião positiva sobre poder passar a fazer-se cinco substituições por jogo (em vez das três habituais). Não vejo nenhuma vantagem nisso para o jogo, seja para dar mais alternativas ou manter a sua intensidade alta. Mesmo que relacione esta decisão com o momento que atravessamos (sujeitar jogadores a menos desgaste) não a percebo. O texto ao lado diz muito sobre esta opinião. Mais preocupado fico se esta opção permanecer para épocas normais.
Sou totalmente contra a ideia das cinco substituições
O treinador pode ver nisto a possibilidade de mexer mais na equipa durante o jogo, mas é uma mera ilusão, porque tantas alterações não seriam mexer na equipa mas sim meter uma nova equipa a jogar. E duvido da eficácia de "duas equipas diferentes" jogarem o mesmo jogo, o seu plano ou reação a ele. É contranatura ao jogo a todos os níveis, para além das quebras de ritmo que irá provocar (mesmo delimitando momentos para as fazer). Penso que não faz sentido nenhum. É, no limite, virar o jogo ao revés. Deixa de ser futebol, ao colocar a lógica do colectivo em permanente mutação ou ameaça dela. Será outro jogo.