O impulso da crítica dos "especialistas" em futebol
PASSE DE LETRA - Sá Pinto mudou a equipa toda em Barcelos; e se tivéssemos sido eliminados com o Spartak? Correríamos todos a criticar a opção do treinador?
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"Prognósticos só no fim do jogo", terá dito o defesa portista João Pinto, respondendo a uma pergunta de um jornalista sobre qual o resultado que esperava para o jogo que iria disputar. Esta frase contêm uma verdade subliminar: a de que é mais fácil falar do passado do que antever o futuro.
Os homens do futebol, os que intervêm realmente no jogo, esses quase sempre têm que antecipar o futuro, e isso é bem mais difícil.
Comentadores, cronistas e analistas do futebol falam, geralmente, do passado: analisam jogos, discutem opções táticas, erros de arbitragem ou substituições bem ou mal feitas .Mas os homens do futebol, os que intervêm realmente no jogo, esses quase sempre têm que antecipar o futuro, e isso é bem mais difícil.
Quando Sá Pinto entendeu levar ao limite o conceito de "rodar a equipa" ou - como dizia Abel Ferreira - "nesta equipa todos são titulares" e colocou um inesperado onze inicial totalmente novo no jogo de Barcelos, contra o Gil Vicente, fê-lo, pois teve que fazer um juízo de prognose, juízo este que abrangeu não só o jogo contra os gilistas, mas o da Liga Europa e, creio eu, o jogo de hoje, contra o atual campeão nacional, o SL Benfica.
O primeiro grande objetivo da época - enfatizado várias vezes pelo Presidente António Salvador - estava à porta, jogava-se no jogo seguinte e Sá Pinto entendeu que deveria usar a tática do "risco zero". O jogo de Barcelos, que até começou bem (com o apoio de mais de 8 mil adeptos bracarenses), demonstrou que o onze escolhido, apesar da qualidade indiscutível de cada um dos jogadores, ainda não era uma verdadeira equipa, pois com o decorrer do jogo emergiram as dificuldades de entrosamento entre os jogadores, perfeitamente naturais.
Depois veio o jogo na Rússia. Para nós, que falamos do passado, torna-se fácil afirmar que a decisão de Sá Pinto foi certa, pois fizemos um grande jogo, vencemos categoricamente uma equipa de grande calibre europeu (que joga a Champions muitas vezes) e atingimos o nosso primeiro objetivo: a presença na fase de grupos da Liga Europa. Mas, e se tivéssemos sido eliminados? Correríamos todos a criticar a opção de Sá Pinto?
O impulso da crítica é natural no adepto, que julga sempre ser um especialista em futebol. Mas, no final, com a euforia de um grande jogo e uma clara vitória em casa do primeiro classificado da Liga russa, Sá Pinto torna-se um visionário
Digo isto porque, ainda no decorrer do jogo, e após a segunda lesão muscular (Wilson e Tormena saíram com lesões musculares em menos de 40 minutos de jogo), a pessoa que estava a ver o jogo comigo apressou-se logo a dizer: "Descansamos a equipa toda em Barcelos e já temos duas lesões musculares; nem sei para que descansamos os jogadores...".
O impulso da crítica é natural no adepto, que julga sempre ser um especialista em futebol. Mas, no final, com a euforia de um grande jogo e uma clara vitória em casa do primeiro classificado da Liga russa, Sá Pinto torna-se um visionário, alguém que soube fazer a escolha certa.
E ainda bem. Mas a tribo braguista nem tempo tem para festejos, pois hoje segue-se já outro grande jogo, contra um crónico favorito a ganhar a Liga. Por isso, se me perguntarem o que espero para o jogo de hoje, digo, de forma confiante, que prognósticos só no fim do jogo.