PLANETA DO FUTEBOL - A análise de Luís Freitas Lobo a factos e protagonistas do futebol
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1 - Aplica-se às equipas, aplica-se aos jogadores. Chamo-lhe os "habitats de crescimento". Ou seja, em que território ou cenários (entenda-se todas as circunstâncias que o rodeiam) estão inseridos num momento em que se pressente que o seu valor/talento atingiu determinado tecto/nível e necessita agora de estímulos para crescer para patamares superiores.
Jogador e equipas: como pode Gonçalo Ramos crescer neste habitat?
Penso muito nisso vendo os nossos grandes nas provas europeias (o terrível choque da maior intensidade da dimensão nacional com a internacional) como também sentirão, por exemplo, clubes ucranianos, holandeses, ou turcos. O contexto em que a questão me surgiu foi, porém, pelos jogadores, vendo Gonçalo Ramos na frente de ataque do Benfica contra o Vilafranquense.
O seu talento, contra um adversário naturalmente frágil, emergiu naturalmente. Nos arranques, mobilidade e execuções técnicas com golo. O jogo foi um passeio para o Benfica.
Gonçalo jogou muito, como sabe, mas a sensação que tenho ao ver o seu talento à solta num jogo/cenário de competitividade tão baixa é que este é a antítese do "habitat de crescimento" que ele devia ter neste momento.
Nos jogos "a sério" nunca joga na equipa principal. É impossível crescer assim. Necessita de outro habitat. Outro clube (sendo emprestado) num nível que apele à potencialização do seu jogo e/ou outro campeonato em que o nível de intensidade suba em todos os jogos. Ninguém cresce numa redoma, só em treinos ou em jogos de nível tão "soft".
E por que não joga o Tondela sempre como o faz (em dois jogos seguidos) no Dragão?
2 - Uma semana depois, o Tondela regressou ao Dragão e voltou a fazer sofrer o FC Porto, não tanto por como defendeu, mas sobretudo (mais uma vez) pela forma como soube roubar bolas e sair rápido para o ataque, criando lances de perigo. Como sucedeu duas vezes seguidas, é impossível dizer que foi por acasos circunstanciais. Pelo contrário.
Para além dos problemas de défice de pressão do processo defensivo portista na rápida reação à perda da bola por parte dos médios ou toda equipa quando adiantada (é, por isso, um problema do processo e não de meras individualidades), o onze beirão soube rapidamente definir o critério de como sair para ganhar profundidade em cima dos desequilíbrios azuis-e-brancos. Gosto de ver Jaume Grau, um médio que gere bem tempos de jogo e, posicionando-se bem, passa bem a bola.
Ayestarán, o treinador, renuncia ao jogo mais físico a defender típico da equipa pequena, o que nestes jogos, com espaço, mostra o lado "mais iluminado" do seu jogar, mas que noutros, contra adversário do seu nível médio-baixo, tacticamente enrugadas em "jogos de pares", impede-a de mostrar o chamado "lado escuro" que, vendo bem, nem deve ter. Será possível salvar-se assim?
Como vejo o atual Rio Ave
Não é fácil fazer crescer o Rio Ave esta época. Mário Silva tem consciência disso e procura estabilizar o seu jogo dentro do mesmo estilo dos antecessores mas se Carvalhal teve jogadores para o fazer evoluir (até na transformação de sistemas no mesmo jogo, com a defesa a "3") tal agora não existe. A equipa trata bem a bola (a qualidade técnica dos jogadores é indiscutível) mas sente a falta de profundidade como antes abordava os últimos 30 metros. Natural, após perder os voos na faixa de Nuno Santos e o n.º 9 Taremi.
Custa-lhe encontrar baliza, isto é, acabar as jogadas de ataque bem elaboradas atrás por tecnicistas como Diego Lopez, Geraldes ou Piazón. A melhor solução tem sido Gelson Dala, o mais inteligente em recuar e avançar no espaço 9, mas que seria ideal como segundo-avançado. Desde trás, a dupla Pelé-F. Augusto inicia bem a transição (passa bem) mas custa-lhe sair para o jogo. A natural perda de influência do "velho" Tarantini faz sentir ainda mais a falta de um n.º 8 "box-to-box".
Sem ir (cirurgicamente) ao mercado em Janeiro esta é, portanto, uma época para olhar de forma diferente para o Rio Ave. Joga bem, mas custa-lhe competir da mesma forma. Encurtou ataque à profundidade e objectividade de golo.
MODELOS
Crespo: Estoril total
A combatividade com técnica e agressividade táctica no ataque aos espaços desde o meio-campo, funcionando como interior catalisador ofensivo. Por fim, aos 24 anos, no belo onze do Estoril, Miguel Crespo expressa com consistência, jogo após jogo, o nível do seu futebol (que se pressentia no Braga B). O carácter combativo e a qualidade com que joga, lendo bem o jogo e, decidindo bem, agarrando sempre a equipa em cada jogada, fazem dele um médio "intenso total" para níveis superiores.
Boavista: a mudança
Em nove jogos, o Boavista perdeu a paciência com Vasco Seabra. Este era um dos casos em que junto com a aposta tinha de existir uma maior margem temporal de erro em face da intenção de construir uma "forma mais difícil de ganhar". Seabra tinha uma ideia para aplicar. O jogo que ganhou ao Benfica foi o mais estratégico Nada garante que iria ganhar com ele mas a probabilidades de começar a perder (também com ele) era enorme. Faltou perceber/aceitar isso. Jesualdo encontrará, no entanto, base para trabalhar o seu 4x3x3. Existem princípios de jogo. Falta agora meter os... fins para esse mesmo jogo. Não sei se será o mais fácil ou difícil.
Winck: defesa-lateral
Gosto deste defesa-direito (só sentindo o espaço defensivo protegido se torna em lateral) que o Marítimo foi buscar ao Brasil (experiente, passou por Vasco e Internacional). Cláudio Winck chegou a Internacional sub-21 e sub-23 pelo Brasil. Robusto fisicamente (1,84 m), seguro posicionalmente, decidido a atacar e atento a dar apoio na saída de bola e concentração permanente no jogo. Uma garantia para variar entre a defesa a "3" (com Winck a subir) ou na clássica a "4".