Os portistas sentem as investigações a Pinto da Costa como um preço demasiado alto a pagar, mas também eles devem querer os negócios do futebol bem explicados. Desde que sejam explicados um dia.
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Expor o mundo das transferências de jogadores e das comissões só pode fazer bem ao futebol e exercer vigilância sobre ele não é mais do que os adeptos dos próprios clubes investigados pedem há muitos anos, embora tendam a fazê-lo às pessoas erradas.
Tenho uma pilha de cartas e e-mails arquivados a exigir aos jornalistas conclusões que não podemos tirar quando as provas são inatingíveis.
O valor do aparecimento de Rui Pinto está no facto de ter aberto uma frincha de acesso, se não às provas, pelo menos a mais informações sobre a subcave do jogo. Custe o que custar, é imprescindível tornar o negócio do futebol transparente, muito mais transparente do que a infindável lista de empresas com nomes pouco imaginativos (PP Sports, Energy Soccer , Socas Investment) enumerada no despacho do procurador Rosário Teixeira para as buscas no FC Porto.
A maioria dos portistas, mesmo alguns não pintocostistas, põe Pinto da Costa num pedestal inamovível, a que provavelmente mais nenhum presidente no mundo conseguiu chegar (é difícil, por isso, para qualquer outro adepto imaginar-se na pele de um portista), e sente as investigações de que ele é alvo como um preço demasiado elevado. Mas também eles devem querer um futebol cristalino, sem dúvidas nem suspeitas, em que uma simples negociação entre dois clubes não envolva um batalhão de intermediários com contributos obscuros e nunca explicados. Só há um senão: quanto mais se acumulam investigações sem condenações, acusações ou nem sequer arguidos, o efeito vai-se revertendo até se transformar em certeza de impunidade quando há verdadeiros culpados.