VISTO DO SOFÁ - Um artigo de opinião de Álvaro Magalhães
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Há cem anos, nos Jogos Olímpicos de Paris de 1924, o Uruguai ganhava a medalha de ouro e dava a famosa “volta olímpica” ao relvado. Nesta altura, o futebol era plenamente um desporto e ganhar o ouro nas Olimpíadas equivalia a ser campeão mundial.
A década seguinte, porém, traria mudanças decisivas. Em 1930, a FIFA organizou, pela primeira vez, um Mundial, que o Uruguai também ganhou, seguindo-se a implantação de um profissionalismo cada vez mais rigoroso. Herbert Chapman, que criou o Arsenal ganhador dos anos 30 (cinco vitórias na Premier League) e inventou o sistema táctico WM, que reinaria durante quarenta anos, até à chegada do chamado “futebol total”, exigiu números nas camisolas, bolas brancas e iluminação artificial dos estádios. Também fez as primeiras contratações de jogadores a outros clubes por somas avultadas. O futebol ficou, então, cativo do capitalismo e iniciou uma era de mercantilização e crescimento desenfreado, criando os seus próprios códigos e regras, enquanto se afastava da noção de desporto que definira os seus primeiros anos de vida e, consequentemente, do ideal olímpico. Ritual, espectáculo, cerimónia, jogo, desporto, indústria, o futebol de hoje alimenta-se de todas essas tendências, sem se fixar em nenhuma. Se continuamos a enquadrá-lo na categoria do desporto é por não sabermos onde o arrumar, pois tornou-se único e indefinível, só se parecendo com ele mesmo.