TEORIA DO CAOS - Um artigo de opinião de José Manuel Ribeiro, diretor do jornal O JOGO.
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1 Enquanto os italianos, ao segundo Mundial seguido que falham, batem com a cabeça na parede e perguntam a si próprios o que lhes faltou, seria bom que os portugueses parassem de se babar com as pazadas de bons jogadores e tentassem saber o que fizeram para os ter.
A poucos dias da saída do diretor-geral da FPF, Tiago Craveiro, para a UEFA, o momento é o ideal para pensar nisso. Num futebol que gosta de detestar os seus dirigentes e que, ao mesmo tempo, lhes exige pouco, é incrível como as boas ideias que nos trouxeram até aqui passam por não ter pai nem mãe.
A reintegração das equipas B na II Liga, as mudanças nos campeonatos de juniores, o advento das provas internacionais de sub-20 para clubes, a Liga Revelação ou mesmo projetos aparentemente alheios, como o Wolverhampton, foram importantes e as pessoas que tiveram essas ideias (e/ou que souberam executá-las) também deviam ser. É quase um absurdo que, depois de tudo isso, os debates futebolísticos deem a entender às pessoas que os resultados só não aparecem porque o selecionador não arrisca, ou só aparecem porque ele jogou em 4x4x2 losango. Para trás ficaram muitas decisões que ajudaram tanto a ganhar como escolher bem o onze ou fazer a substituição certa, com uma diferença: a tática serviu para aquele jogo; o que se fez para trás serve para todos no futuro. A partida de Craveiro, corresponsável pelo maior salto evolutivo na organização do futebol nacional, podia ser utilizada para aumentar a exigência sobre os dirigentes, fora e dentro dos clubes ou, pelo menos, para alterar o perfil padrão do que deve ser um bom dirigente e, talvez, acabar de vez com o cancro que paralisa a Liga e persegue a FPF: elas existem para ter boas ideias que mantenham o futebol nacional na vanguarda; não existem para mandar na Disciplina, nem na Arbitragem, e muito menos para ensinarem os clubes a comportarem-se.
2 Pelo que percebi, Fernando Santos teve sorte na quinta-feira, com a Turquia, mas não teve azar em novembro, com a Sérvia. Ao mesmo tempo, jogou sem os odiados armários (Danilo e William) na posição de trinco, mas a Seleção Nacional dos baixinhos deveria ter sido, mesmo assim, uma imediata fortaleza defensiva. Lá longe, em Palermo, o invejado (e belo) futebol da Itália campeã europeia naufragou e, apesar disso, o jogo, para demasiada gente, continua a ser preto ou branco, violinos ou bombos, gazelas ou gorilas. Nem estamos sequer autorizados a sugerir qualquer coisa que fique no meio disso.