PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 A mente, o físico e a tática. O triângulo da vida duma equipa de futebol. Quando um destes "sinais vitais" ressente-se necessita duma intervenção cirúrgica, rápida e preparada, do treinador.
O Benfica das três derrotas seguidas não é diferente, na essência de jogo, do Benfica das tantas vitórias seguidas. Só que essa essência de jogo necessita desses suportes técnico-vitais. A forma como os tem vindo a perder é resultado dum desgaste de todos eles ao longo do tempo, ao qual parecia insensível. Não é. O jogo de Chaves foi, com os choques mentais dos jogos anteriores, a prova disso.
Schmidt mexeu na equipa através do critério, como disse no final, dos jogadores que viu mais cansados. Faltavam dez minutos para acabar um jogo contra um adversário a defender em bloco-baixo e esses "homens cansados" foram os dois melhores marcadores: João Mário, o criador do flanco para dentro e Gonçalo Ramos, o ponta-de-lança que aparece sempre. Nenhum deles estava a fazer um bom jogo mas, mais do que os ver individualmente, tinha essa visão de sub-rendimento em função do coletivo, corroído, primeiro, pela ansiedade e, depois, pelo desgaste físico.
Entrou Tengstedt (deslocado da equipa) e só mesmo no fim, com bolas para cima da área, o melhor nº9 fino cabeceador, Musa. Antes, na primeira mexida, tirara o diferenciador-Neres que desde o início fintava um-para-um a trincheira adversária. Em todas essas mudanças, a equipa nunca melhorou. Ficou mais confusa e acabou a criar mais perigo pelo caos dos centrais (Otamendi-António Silva) metidos dentro da área. Um problema que começara mental-físico tornara-se tático.
2 Esta situação só não era provável porque tinha uma proteção de margem de erro de dez pontos. Não foi, porém, suficiente perante o "fantasma de campeonatos passados". Isto é, o FC Porto de faca nos dentes na Luz.
Perdeu e a confiança (coragem) e o receio (medo) entrou no corpo dos jogadores. Noutro contexto, a equipa nunca jogaria em Chaves comida pela ansiedade a cada passe errado ou decisão precipitada. Nestas aturas, só dois fatores podem salvar uma equipa: a tal individualidade que resolve o jogo numa jogada (improvável sem Neres e após Rafa ter perdido a melhor forma) ou uma alternativa de movimentação tática que os jogadores tenham como plano treinado para colocar em execução. Não existe.
O Schmidt metodólogo e ideólogo já vimos e a sua qualidade é indiscutível. A questão é que um campeonato pode ganhar-se (ou perder-se) noutros diferentes planos. Do "banco tático" ao plano motivacional (as mudanças e a roda de Conceição). Estes foram três jogos para ver Schmidt como "treinador de banco". Os próximos também serão. A época vai decidir-se aí.
Do turbilhão ao "efeito xanax"
A ansiedade também pode surgir num plano diferente. No caso do FC Porto, perante a oportunidade improvável, sentiu-se frente ao Santa Clara. Tinha o domínio em ataque continuado mas a forma apressada (não veloz) como todos queriam resolver as jogadas levava à precipitação da decisão e deficiente execução. O coração acelerado também necessitava de intervenção.
A tal (boa) tática, neste caso, passava por tirar desse turbilhão (junto à área açoriana) o jogador que melhor pensa e recuá-lo para poder ter a visão ampla do jogo e do que se passava. Após esse diagnóstico, o fator decisivo do seu passe podia fazer a diferença. Quando Otávio recuou, toda a equipa através dos seus olhos passou a ver melhor o jogo e chegou ao golo.
Percebo Conceição querer estabilizar emocionalmente a equipa ao intervalo. Serenar as mentes e com isso fazer a bola rolar com outro critério. Conseguiu mas quase com "efeito xanax", tal a forma como os jogadores mais do que deixarem de ter pressa passaram a não ter a intensidade e velocidade certa para o fazer.
Não era um jogo fácil para acertar o "pacemaker" da equipa. Ganhou pela superioridade sobre um adversário frágil junto ao trabalho no banco: mexidas (bem Namaso) e grito motivacional certo. Agarrou a equipa e não a deixou perder-se dentro da sua cabeça.