PLANETA DO FUTEBOL - O crescimento tem prazos? Da formação para o mundo adulto, há um túnel de maturidade a atravessar.
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1 - É das melhores sensações ver que os principais impactos de qualidade numa pré-época são de jogadores a nascer, os tais que gosto de dizer que jogam com a casca de ovo na cabeça.
Têm insolência com a bola mas, ao mesmo tempo, responsabilidade no que fazem.
Não sou dos que erguem a voz moralmente com o discurso da formação, porque acho que ela não se esgota em si mesmo. Isto é, depois dela não se segue logo jogar no dito futebol adulto-profissional. Há um processo, túnel, de uma/duas épocas, mínimo, a que chamo maturação da formação, quando o tal craquezinho em potência entra no mundo dos grandes.
É nesse espaço que estão dois laterais, um direito, do FC Porto, Tomás Esteves, 17 anos, e outro esquerdo, do Benfica, Nuno Tavares, 19. Ou melhor, devem estar, porque já ouço falar deles com tantas certezas que parece terem crescido esses tais dois anos em... dois meses. E ninguém cresce, naturalmente, assim tão depressa das camadas jovens/equipa B para o onze principal (tirando, claro, a casta rara dos génios).
2 - Têm insolência com a bola mas, ao mesmo tempo, responsabilidade no que fazem. Por vezes arriscam um pouco mais, mas isso tanto dá para falhar (interessante ver como reagem logo, como que revoltados consigo próprios, para recuperar a bola e colmatar o erro, de modo a ninguém reparar) como para fazer coisas técnicas e de visão tática bonitas.
Neste momento, o FC Porto não tem melhor lateral-direito em potencial do que Tomás Esteves.
Exemplos: o passe vertical a romper de Tomás Esteves sobre a meia direita, a isolar um avançado, mal entrou pelo FC Porto no jogo com o Fulham; o controlo orientado saindo da pressão com finta e virando-se para o jogo a sair a jogar de Nuno Tavares, na primeira intervenção que teve pelo Benfica contra a Académica.
Ambos têm de crescer. As necessidades (aberturas de plantel e onze) podem proporcionar entrada na equipa mais cedo a um do que a outro. Neste momento, o FC Porto não tem melhor lateral-direito em potencial do que Tomás Esteves. Tem tudo dentro dele. Se a cabeça controla a ansiedade e ele perceber o que... não pode fazer, até o vejo nesta fase à frente de Saravia, de quem gostei ver correr no Racing campeão argentino mas que precisa de atravessar outro túnel para entrar no onze principal de um grande europeu como o FC Porto: cultura europeia da posição, a fechar por dentro, dar o lado de fora e saber fazer encurtamentos.
3 - Entre fazer um miúdo crescer vindo da formação e adaptar um jogador vindo de outra realidade competitiva, qual o processo mais simples e aconselhável? Sim, eu sei que cada caso é um caso, mas, no portista, não consigo resistir à tentação de escolher o primeiro. Acho que quem gosta de futebol e de ver nascer bons jogadores também não. Silêncio, está a construir-se o presente (que se confunde com o futuro).
Vejo Luis Díaz como avançado para toda a frente de ataque do FC Porto
De Tomás e Luis Díaz
No geral, vejo os grandes do nosso futebol a comprar bem. No timing e nos mercados possíveis, cada qual dentro das suas possibilidades e limitações. Os tempos modernos da informação, que sai e salta por todos os lados, impedem os processos sigilosos de outrora. O importante é ter processos de avaliação definidos com antecedência, em diferentes graus financeiros e desportivos.
Têm chegado avançados que dão vontade de ver rápido. Raúl de Tomás, não duvido (por isso o destaquei tanto num vídeo aqui a meio da época passada), é um grande n.º 9 de remate fácil, mas menos de profundidade. Imagino-o com Seferovic mais em jogos contra adversários fechados com muralha defensiva (a maioria na dimensão nacional), não tanto com espaços para invadirem (como na dimensão internacional).
Gosto muito de Luis Díaz, mas pelo que vi no Junior FC a época passada, não o vejo como o extremo da Copa América. Vejo-o como avançado para toda a frente de ataque, para jogar (e/ou aparecer) por dentro com capacidade/visão de passe de "qualidade enganadora" (simula para um lado, mete a bola para o outro).