A apreciação de Jesualdo Ferreira ao clássico no Dragão, que terminou com uma vitória do FC Porto sobre o Benfica, por 3-2
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1 - O quadro emocional com que as duas equipas se apresentaram à partida acabou por ter uma influência decisiva na qualidade deste clássico, que ficou muito abaixo daquilo que as equipas estão capazes de fazer e daquilo que esperavam todos aqueles que viram o jogo, de uma forma mais ou menos apaixonada.
Os jogadores não são máquinas e acabam por ser influenciados pelo ambiente
O Benfica precisava de ganhar para dar uma espécie de estocada final e abrir um caminho largo para o título; o FC Porto não podia perder pontos se queria encurtar as distâncias. Ou seja, havia uma pressão alta sobre os jogadores e creio que não conseguiram nunca libertar-se dela, o que impediu que falhassem em aspectos tácticos e técnicos em que habitualmente são muito fortes.
Mesmo os golos que se marcaram não resultaram especialmente de grandes momentos de futebol ou de jogadas espectaculares. Um clássico é sempre um jogo em que as expectativas estão bem no alto. Gostamos de ver um bom espectáculo de futebol, estamos sempre à espera disso, porque gostamos deste desporto, mas até isto acontece nos clássicos: os jogadores não são máquinas e acabam por ser influenciados pelo ambiente, pelos momentos, pela pressão de vencer.
Essa pressão tirou tranquilidade, coartou a imaginação de jogadores habitualmente criativos e a qualidade do jogo ressentiu-se. Atenção: a expectativa em relação a um clássico é sempre elevadíssima e, neste caso, foi gorada por um espectáculo de baixo nível em relação ao que era esperado. Aliás, vi o jogo através de um canal brasileiro e até a locução, habitualmente frenética e enérgica, estava num registo muito abaixo do que é normal. Ontem, nenhuma das equipas conseguiu superar a outra.
Recordo o jogo entre FC Porto e Benfica no Estádio da Luz, em que a equipa de Sérgio Conceição não deixou respirar a de Bruno Lage, não lhe deu caminhos para explorar, e soube ser prático na hora de fazer golos, foi eficaz em vários momentos do jogo, e num momento em que a equipa nem estava a passar muito bem. Ontem, isso não aconteceu. Como referi, nenhum equipa se superiorizou, foi um jogo muito equilibrado, embora a primeira parte do FC Porto tenha sido muito forte, personalizada, a justificar o resultado que se verificava ao intervalo. Sim, também neste jogo houve eficácia portista... na finalização.
2 - O que podemos concluir deste jogo? Que o campeonato está reaberto na luta pelo título. Esse é o grande resultado que o FC Porto tira deste clássico, porque, apesar de estar pressionado a não perder pontos, agora não está sozinho nessa pressão... O Benfica também não se pode distrair, sabe bem que dois empates, se o FC Porto não tropeçar, dão a liderança ao rival, que lhe ganhou duas vezes.
Por isso, sim, a luta pela conquista do campeonato está reaberta desde a noite de ontem. E já na próxima jornada, as duas equipas têm testes duríssimos: o FC Porto desloca-se a Guimarães (o Vitória está animado pela goleada que impôs ontem ao Famalicão por 7-0) e o Benfica recebe o Braga, que está em crescendo desde que Rúben Amorim tomou conta da equipa.
Acredito que o empate que ontem concedeu, frente ao Gil Vicente, não passará de um acidente de um percurso que tem sido riquíssimo e que teve o ponto alto com a conquista da Taça da Liga. Portanto, será assim até ao final, uma forte pressão sobre dois candidatos a um título. Não será fácil para ninguém.