"O Europeu de França há de chegar para uns bons cem anos de desculpas"
Perguntar depois dos jogos que não correm bem, ter dúvidas depois do que se viu, ofende muito esta Seleção.
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1 - A Seleção é a nossa vaca sagrada e, pelos vistos, deve estar sujeita a uma rigorosa dieta só à base de adjetivos docinhos. Se jogar mal, paciência: recuperam-se exemplos do passado que tenham terminado bem e paz à sua alma. Nisso, o Europeu de França há de chegar para uns bons cem anos de desculpas. No mínimo. A veneração é, pelo que se deduz, o único caminho dos iluminados, daqueles que verdadeiramente percebem o jogo. Os outros, os que por acaso ficarem com dúvidas depois do que veem a equipa fazer, não têm direito a explicações; mordam a língua e nem se atrevam a fazer perguntas. Porque perguntar ofende, ao contrário do que se diz por aí, e perguntar e/ou falar depois de um jogo, citando o selecionador, "é fácil". Tão fácil, e inadequado ao que parece, que não se percebe muito bem por que raios ainda há conferências de Imprensa no final dos jogos. Ou até antes, onde também nunca se explica nada, porque não é sensato dar trunfos ao adversário. Haja paciência.
Portugal teve um arranque pálido, ainda que só uma improvável conjugação cósmica lhe retire a presença no próximo Europeu. Sim, a Seleção joga mal muitas vezes. É a vida. Tem de aprender a conviver com isso e a ver-se ao espelho assim, feia. E é preciso, sobretudo, não calar as perguntas, quanto mais não seja porque esta equipa costuma reagir quando se sente questionada...
2 - A propósito: questionar a oportunidade da chamada de Dyego Sousa à Seleção é legítimo, mas sustentar a argumentação dessas reservas com a necessidade de defender o jogador português "bacteriologicamente puro" - e estou a citar, antes de esfregar o teclado com álcool - é assustador. Vamos acreditar que toda a gente tem direito a uma frase infeliz. E acreditar também que é ainda uma obrigação jornalística assinalar essa despropositada infelicidade...