Jogadores de classe média "não comerciais" brilham em equipas pequenas mas caem no alçapão da "prospecção pirilampo".
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1 - Eles são o centro que verdadeiramente mantém a competitividade do futebol português viva.
Todos os elogiam mas, nos desígnios do "futebol comercial", os grandes tendem a nunca apostar neles.
Penso nos chamados jogadores de "segunda elite" que, metidos em clubes de classe média-baixa, conseguem fazer valer a pena ver essas equipas mesmo em jogos mais "cinzentos". Todos os elogiam mas, nos desígnios do "futebol comercial", os grandes tendem a nunca apostar neles. Sentem-se, assim, a bater no tecto do seu nível da carreira e a solução é partirem.
Foi como senti, esta época, as saídas de Fábio Abreu (n.º 9 do Moreirense) para a Arábia Saudita, para o Al-Batin, e agora de Thiago Santana (goleador do Santa Clara) para o Japão, para o Shimizu S-Pulse. Ambos têm 27 anos e foram, naturalmente, atrás do contrato das suas carreiras. Como já antes tinha ido Pedrinho (médio "faz-tudo" rotativo do Paços, também com 27) para a Letónia, para o Riga FC, ou Xavier (com 28, que estava no Tondela após jogar sempre bem, como ala completo, por todos clubes por onde passou) que foi para a Grécia, para o Panathinaikos.
2 - Intriga-me que clubes maiores portugueses não tivessem apostado neles (pelo menos para boas alternativas de plantel). Não se trata só de questões financeiras. Longe disso. É quase como um "complexo de inferioridade de prospecção". Como pode aquilo que procuramos estar há tanto tempo mesmo debaixo do nosso nariz e nós não repararmos?
Eles, Fábio Abreu ou Thiago Santana, não são pontas-de-lança "comerciais" no sentido de terem a origem, perfil e percurso, com margem de evolução estendida para criar as expectativas que uma contratação deve ter. Os golos que marcam são vistos com "relatividade". Tanto os contam como, para os desvalorizar, citam as épocas em que não marcaram tantos.
3 - Não fazem o que chamo a medida média que estabelece o verdadeiro valor dum jogador. Isto é, todos fazem por vezes algo acima do que valem, como também fazem, outras tanta vezes, algo abaixo do seu real valor. O segredo da boa avaliação, é perceber que no meio desses pólos extremados irreais, está o verdadeiro valor (médio) desse jogador.
Se olharmos só para a "prospecção pirilampo", a que só repara e deixa de reparar no jogador conforme ele se acende ou apaga, nunca se verá verdadeiramente como ele é. E, assim, ele perde-se e vai embora. É desolador. Para eles e para o nível competitivo médio do nosso futebol/campeonato, que assim desce claramente porque fica sem os elementos que, por si só, fazem equipas pequenas serem (ou, admito, parecerem) maiores.
O que preocupa é que os sintomas são cada vez mais visíveis. Uma incompetência estrutural que nem cuida do futebolista, nem do jogo.
Um título "com laço"!
A Final Four da Taça da Liga vai ter os atuais quatro grandes do nosso futebol. A competição tem sido, ao longo dos anos, redesenhada quase para abrir uma "autoestrada" para isso (embora Moreirense e V. Setúbal o tenham contrariado, e ainda bem) mas esta época tornou-se numa mera "formalidade" para isso suceder.
Sei que vivemos tempos únicos mas esta solução dos quartos-de-final a uma mão (e logo até na casa dos grandes) não foi uma boa ideia para a prova, mesmo que a intenção fosse só "mantê-la viva".
É quando se chega a momentos de "realidade limite" como a que atravessamos que (ao contrário do que parece) devemos olhar e perceber que o mundo em que vivemos (o futebol e a vida) não é, no mais importante, feito dos "elefantes em loja de porcelanas".
O resto do futebol fora da elite macrocéfala foi, nesta decisão, colocado ao nível da insustentável leveza do ser menor que é. Um dia irão perceber a velha lógica de quem subiu a montanha mais alta e quando chegou ao cume após tanto esforço viu que, afinal, não existia nada lá em cima. Eu já senti isso.