PLANETA DO FUTEBOL - A análise de Luís Freitas Lobo.
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1 - O (talvez) mais incrível Brasileirão de sempre (o "Covidão 2020", como lhe chama a crítica brasileira) está quase a consagrar um campeão saído da mais profunda existência intemporal do futebol brasileiro: o Internacional de Abel Braga.
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Tendo pegado na equipa após a saída de Coudet (que não resistiu ao convite europeu e saiu para treinar o Celta), Abel Braga respeitou o belo trabalho do antecessor argentino (também líder durante muito tempo) e resgatou o primeiro lugar que parecia destinado para o São Paulo de Fernando Diniz, o treinador dito modernista, tão "quixotesco como criticado" que, visto como um dogmático do "sair a jogar", personifica o oposto do "Abelão".
O confronto foi tão extremado que quando há poucas jornadas os dois se defrontaram no São Paulo-Internacional que podia decidir o título, conta-se que a palestra do Abel Braga aos seus jogadores antes do jogo foi muito simples e só incidiu num ponto: "Quando eles forem cobrar tiro de meta (leia-se pontapé de baliza) nós vamos marcá-los pensando que vamos logo fazer golo!". Assim foi. Rapidamente, quando o guarda-redes tocou curto para o central Vítor Bueno, logo Praxedes (médio revelação do Inter) o pressionou, roubou a bola e deu origem a um dos golos duma incrível goleada de 1-5!
Dos 11 golos que o São Paulo sofreu em 2021 e lhe custaram perder a liderança, cinco foram em erros de saídas de bola semelhantes.
"Quando eles forem cobrar tiro de meta, vamos marcá-los e logo fazer golo!"
2 - Claro que este estilo de Diniz só é criticado quando do seu insucesso. Durante muito tempo, esta ideologia de troca de passes por todo campo, em largura e profundidade, teve de ser elogiada. A questão esteve em não perceber quando ela pedia, também, uma estratégia defensiva mais realista, bater longo (mesmo que atraísse curto primeiro) e evitar este orgulho de nunca abdicar dos princípios mesmo que isso custasse a derrota. Imaturidade ou romantismo?
O mais estranho é que, durante muitos jogos, Diniz soubera equilibrar a equipa: meteu os centrais mais fortes, Arboleda e Bruno Alves, inseriu um médio-volante de marcação (o trinco europeu), Luan, e Tchê Tchê cresceu a meio-campo, atenuando o deficit de poucas recuperações de bola (num meio-campo em que Dani Alves joga a n.º 10 "como quer"). No ataque, Luciano teve (por lesão) uma quebra. Com ele, existia velocidade, finta e golo (em largura e recuando para arrancar desde trás).
3 - Ao mesmo tempo, Abel Braga foi refundando motivacionalmente o seu onze no Inter e, no ataque, com as lesões de Thiago Gallardo (goleador-jogador craque de visão coletiva de jogo) fez crescer a maior revelação desta época (que chegara estranhamente dispensado pelo Santos). É Yuri Alberto, 19 anos, um n.º 9 com força e destreza física e técnica. Tem grande inteligência de movimentos sem bola (nas desmarcações) e finaliza com grande classe.
Nessa espécie de 4x1x4x1, Rodrigo Dourado é o "volante" à frente da defesa, com Edenilson (31 anos) e Praxedes (18) a formarem a dupla de "interiores armadores" no centro, ficando Patrick e Caio na esquerda, bem abertos (num onze que, com Rodinei e Moisés a laterais, sabe, depois, mexer com Peglow ou Marcos Guilherme, nas faixas, ou lançar o uruguaio Abel Hernández como ponta-de-lança mais "carro de assalto").
4 - Desilusão maior, o Flamengo, de Domènec para Rogerio Ceni, procurou reinventar o seu jogo, desde o início, com Domènec a meter laterais para construir "por dentro" desde trás, até às variações de Ceni que findaram com o regresso ao 4x2x3x1 com Bruno Henrique-Everton Ribeiro abertos, Arrascaeta no meio e Gabigol a n.º 9 (difícil conciliá-lo no mesmo onze com Pedro, muito bom avançado-centro) enquanto que no meio-campo o melhor momento da equipa, mantendo sempre Gerson como volante-equilibrador, foi quando Diego reapareceu (William Arão é, claramente, um jogador que para jogar bem, precisa muito das indicações precisas/específicas de um treinador que o descodifique bem).