PLANETA DO FUTEBOL - Opinião de Luís Freitas Lobo
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1 - Nem todos os treinadores começam a pensar uma equipa da mesma forma. A nossa seleção volta a atacar uma fase final (o Euro) e, apesar de se debater a questão dos centrais ou de quanto pode durar Ronaldo, onde Fernando Santos começa verdadeiramente a pensar e fazer a equipa é na a dupla de médios-centro (seja em 4x2x3x1, 4x3x3 ou 4x4x2). Na soma do "n,º 6 + n.º 8", tem perfeitamente definida taticamente as características que busca. Por isso, não importa William Carvalho pouco ter jogado esta época no Bétis. Não há outro jogador com as suas características, físicas e técnicas, para cumprir a missão exigida de segurar e conduzir a bola queimando linhas de pressão pelo meio-campo no corredor central. Outros possíveis ocupantes dessa posição "8" não têm a mesma amplitude muscular de espaço que Santos privilegia para essa missão. Não se trata de valorar menos outros jogadores. É a pura questão da chamada tática individual.
2 - Erguidas as bases das fundações táticas da equipa, o pensamento abre no perfil do terceiro médio: é o tempo certo de afirmação na seleção de Bruno Fernandes. Principal dúvida: Pode Bruno Fernandes atingir na Seleção o mesmo nível, dinâmica tática e exibicional que em Manchester? Inserido em plano de jogo e movimentação (interligada) diferente, para além de não ter o mesmo estatuto-patrão no onze, não é justo exigir-lhe isso. No Mundial"2018 (ainda a aparecer) encostaram-no descaído numa faixa até... desaparecer. O desafio que se coloca agora é outro: meter Bruno Fernandes no meio com nível de influência alto (à frente do tal duplo-pivot). Mais do que criativo (para isso penso sempre no Bernardo a inventar desde a faixa), como organizador.
3 - Seria este o upgrade de visão e dinâmica tática que a nossa seleção poderia ter. Embora esta opção/colocação de Bruno Fernandes nesta equação de sistema e posição pareça pacífica, a verdade é que não o é na luta de egos de protagonismo tático-técnico dentro do onze da Seleção. Jota brinca com essa questão mas é um avançado solto que vem da faixa. Bernardo Silva é o tal criativo que passa a bola. Bruno Fernandes seria mais importante num coletivo em que há um jogador, Ronaldo, que não participa no processo defensivo. Neste contexto, o tal organizador "quase 10" tem de ser também um duplo do "8" a defender. Ou seja, as suas obrigações no jogo serão muito maiores do que as liberdades com que gostaria de fazer aquela posição. Estes jogos de preparação (Espanha e Israel) valem sobretudo, na minha perspetiva, para perceber que alcance tático de jogo Bruno Fernandes poderá atingir na Seleção (e, claro, o que Santos estará, por princípio, disposto a dar-lhe).
O que se quer ou se exige?
Arranca a operação Euro"2020 (em 2021) e nesta dissonância de um ano, alguns jogadores aconteceram. O núcleo do Sporting-campeão: Pedro Gonçalves, Nuno Mendes e Palhinha. Só Nuno Mendes, lateral-esquerdo, numa posição carenciada em alternativas, pode apontar à titularidade. A arte tática de Pote espera o momento e Palhinha, que ganhou solidez como nº 6, o tal espaço que é o principio de pensamento da equipa de Santos, vive numa posição dividida (e condicionada) por distintos estilos de jogo.
Isto é, ela pode mudar entre o rosto mais de trinco (até possível central) de Danilo, e a face de pivot (construindo/distribuindo jogo) de Rúben Neves. Palhinha seria um compromisso entre os dois mas sem a definição clara de ser uma coisa ou outra.
À frente, se não for um segundo-avançado em 4x4x2 (possível contra Hungria, quase impossível contra França e Alemanha), a decidir entre Félix ou juntar André Silva e Ronaldo, pode surgir o tal 4x3x3 com Bruno Fernandes. Depende do que Santos quiser em função dos jogos (entenda-se o que adversário exige e... permite).