PLANETA DO FUTEBOL - A análise de Luís Freitas Lobo.
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1 - O futebol tende a ser repulsivo a simplificações. A possibilidade do Sporting aumentar a vantagem no primeiro lugar para uma margem pontual tão acentuada como invulgar para o "mundo verde" colocava toda a equipa leonina perante a pressão de ter de cumprir esse destino da jornada.
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Este Gil Vicente é, porém, uma equipa que sabe defender com o meio-campo como o "capacete de obras táticas" sempre posto (a dupla Claude-Lucas Mineiro trabalha muito). E na frente de ataque lança um nº 9 antes extremo, hoje avançado-centro de busca da profundidade (o velocista Samuel Lino), como ponta do 5x4x1. A base estava naquela dupla do meio que encaixa num jogo de "pares de marcação" com a dupla verde adversária do mesmo espaço, Palhinha-Matheus Nunes, esta com intenções mais construtivas/atacantes.
O primeiro sinal do jogo foi, nesse contexto, quase irónico: a recuperação (alta) de bola do Gil causava mais perigo do que a posse de bola em zonas (também altas) do Sporting. E, assim, os galos tiveram as primeiras grandes oportunidades do jogo. Ganharam confiança e marcaram. É o poder da "contra-transição" como impulso para, depois, provocar "outro jogo" que o adversário não esperava.
2 - O jogo (sob chuva torrencial e campo pesado) pedia jogadores "mais físicos", mas Amorim, para tentar dar a volta, insistiu ver o jogo pelo lado da "bola no pé" e apostou num "peso pluma" de muita técnica por todo o corpo, metido a nº 8, com a missão de ser nº 10: Daniel Bragança. Tendo mais bola face ao Gil mais recuado, estrategicamente à espera do contra-ataque, ele ia ter a bola para marcar assim a diferença. Mas, e espaço? A concentração absoluta da hipnose defensiva de Ricardo Soares aos seus jogadores mantinha o rigor absoluto atrás da linha da bola. Os leões (os mais pequenos em ataque organizado, os maiores nas bolas paradas) procuravam jogar ou lutar em 25/30 metros. E o resto do jogo mostraria como uns, os primeiros, seriam curtos e um dos segundos seria gigante.
O jogo é dos médios mas este era resultado para ser decidido dentro da(s) área(s). O espaço da "girafa" Coates contra "galos com picareta"
3 - O jogo foi dando, no seu decorrer, sinais cada vez mais claros sobre a dimensão física exigida em espaços curtos. Ver Jovane só a aquecer na margem lateral era, nesse sentido, o maior "contrassenso" sportinguista. A "picareta defensiva" do 5x4x1 de Ricardo Soares manteve-se imperturbável até que o ataque de Sporting cresceu de tamanho na área, pelo jogo aéreo de Coates, um defesa central que incorporou o que o ataque (o perfil dos avançados a atacar a bola) precisava: a dimensão física, na presença e no ataque à bola. O jogo é dos médios mas este era resultado para ser decidido... dentro da área. No espaço da "girafa" Coates.
O modelo e as peças
Os três médios que fazem a máquina do meio-campo do Paços continuavam a existir no sistema mas, em campo, uma das peças mudara. Bruno Costa, a caixa de velocidades ofensiva, substituída por Diaby, um pilar de cimento tático (o lugar habitual de Eustáquio, mas como nº 6 construtivo, que passou para nº 8). Aqui está mais um bom exemplo de como absurda é a frase "troca por troca", tal a diferença que, apesar de ser troca direta na mesma posição do sistema, um jogador (suas características) faz em relação a outro.
Desde o início, contra o Portimonense, viu-se essa lacuna para aplicação do seu modelo de jogo. A mudança de sistema a meio da segunda parte, tirando Diaby e passando a jogar em 4x4x2 (com a dupla de pontas de lança João Pedro-Tanque) mostrava como (por entre o granizo e um adversário raçudo) Pepa sentia que sem as peças certas não era possível jogar esse seu "jogo dos médios". Tendo menos hipótese de fazer os seus "jogos de triângulos", a dupla resistente Luiz Carlos e Eustáquio assumiram a construção feita em condução. Comeram muitos metros assim, mas aquele, mais direto, não era o jogo da equipa. Adaptando-se melhor às circunstâncias com a sua essência natural, o Portimonense esteve, assim, sempre "modelarmente" mais confortável.