SENADO - Um artigo de opinião de José Eduardo Simões.
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A saída forçada (há interesses associados cujos contornos ainda estão por descobrir) de Luís Filipe Vieira foi um rude golpe que "decapitou" o topo da estrutura encarnada.
Não sou investigador, procurador ou juiz, não sei o que Vieira fez ou não fez, mas algumas das acusações que saltaram cá para fora não parecem valer o papel em que foram escritas.
Num ápice, e sem pré-temporada para preparação, rei morto, rei posto, e veio novo presidente, o tal que a comunicação social logo ungiu como o sucessor maravilha. Mas ser número 3 ou 4 é diferente de ser o Nº 1, as responsabilidades são maiores, tem que se estar devidamente preparado e ter um projecto para o clube. Até agora, pouco disto salta à vista. Rui Costa e seus pares na SAD e no clube estão mais preocupados em deitar todas as culpas para cima de Vieira e passarem por "anjos de coro com asas" que nada viram, ouviram, leram ou entenderam, muito menos disseram, e não são responsáveis por nada. Com ajuda daqueles que promovem activamente, sem ser condenados, a fuga de informações de todo o tipo, parece claro que de dentro da estrutura encarnada são soprados pormenores de hipotéticas "discordâncias", "incómodos" sentidos ou "ignorâncias" de actos ou em relação a pessoas típicos de quem procura sacudir a água do capote ou anda desmemoriado. Custa a crer que sejam verdade.
Apenas com base no que foi sendo conhecido na imprensa, vamos compor a linha do tempo e os objectivos que presidiram à gorada tentativa de aquisição pela SAD do Benfica das acções detidas por terceiros, pelo valor de 5 euros (quando então valiam no mercado cerca de 2,6 euros), acções essas que depois seriam revendidas a terceiro/s pelos encarnados. Todos, na SAD e fora dela, sabiam quem detinha essas acções. O Rei dos frangos, José Guilherme e mais uma série de empresários amigos de Vieira, sem dúvida, mas também passaram a pertencer ao círculo de relações de Rui Costa, Domingos Soares de Oliveira e restantes elite. Que ninguém se ponha de fora. Agora vou explanar aquela que me parece ser a lógica daquela operação: o Benfica adquiria por 5 euros cerca de 25%, podendo ir até quase 30% (as acções detidas pelas pessoas atrás referidas e mais algumas empresas associadas), mas era o Benfica que as ia depois vender a John Textor, com quem já tinham ocorrido reuniões na Luz e no Seixal, à vista de todos, por um valor que seria na ordem dos 9 a 12 euros. O valor final dependeria, e aqui estou a especular um pouco, ao grau de envolvimento que seria permitido a Textor e suas empresas tanto na SAD, como no clube e sociedades derivadas, e ao crescimento de reconhecimento mundial da marca. O Benfica pagava bem mais que o valor de mercado?
Sim! Mas essa era a maneira rápida de conseguir um número significativo de acções, pois as restantes estão dispersas por dezenas de milhares de pequenos accionistas. E, se tivesse sido bem sucedido (a CMVM não aprovou a operação), o Benfica teria realizado, de seguida, uma mais valia na ordem dos 50 ou 60 milhões de euros e conseguia um parceiro de grande interesse estratégico. Seráque tudo isto foi pensado apenas e só por Vieira em conversa com os seus botões? Depois, com o chumbo da CMVM e mantendo o Benfica identificação e interesse na associação com Textor, este percebeu que a entrada no capital da SAD seria possível através da aquisição directa dos tais 25% de acções detidas pelos amigos de Vieira, e de Costa, Oliveira ou Gaioso. Ou seja, a CMVM e, sabe-se lá se alguém com receio de ser investigado ou que não percebeu o filme todo, retiraram aos encarnados a hipótese da receita referida - 50 a 60 milhões. Vieira saiu, reina a confusão, mas Textor continua por aí...
No plano desportivo, Rui Costa aposta, e mal, em imputar a Vieira todos os erros de construção das equipas e mesmo o regresso de Jesus em 2020. Faz mal, até para se proteger a si próprio no futuro, pois as suas anteriores funções na SAD eram tudo menos irrelevantes na área desportiva. Por último, mais um coelho a saltar da cartola: a hipótese de abandonar o notável Centro de Treinos do Seixal, cuja ideia e construção é um dos grandes méritos de Vieira! É algo que não tem pés nem cabeça, e só é possível para desviar as atenções para a má campanha desportiva nesta primeira época pós Vieira. Parece uma nau à deriva!