PASSE DE LETRA - A crónica de Miguel Pedro, assinada ao domingo
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A Liga alterou o modelo de participação na Taça da Liga. Nesta temporada, participarão apenas oito clubes: os seis primeiros da I Liga (à 8.ª jornada) e os dois primeiros da Liga-2 (à 10.ª jornada).
É legítimo um adepto achar que há muito interesse em que Benfica, FC Porto e Sporting cheguem longe na prova...
Estas jornadas disputam-se este fim-de-semana. Compreende-se o figurino, pois assim a Liga consegue manter a prova e, em particular, a final-four (e o seu retorno financeiro). Este modelo de qualificação, decidido a meio da primeira volta, comporta várias potenciais injustiças e pode distorcer o mérito dos apurados.
Os calendários de cada clube não têm o mesmo grau de dificuldade, pois cada um jogou com subconjuntos diferentes de adversários. Depois, há equipas que disputam mais jogos em casa do que fora (ou vice versa). Finalmente, a Liga não estava a aplicar corretamente, a meio das duas ligas, os critérios de desempate que ela própria estabeleceu.
Por queixa do Nacional, viu-se obrigada a alterar as classificações da I Liga à 7.ª jornada. De qualquer forma, esperamos que, independentemente destas questões, o SC Braga, que já está apurado para os quartos de final da prova, se possa apresentar em Leiria para conquistar o seu terceiro troféu desta prova.
Assistimos na quarta-feira, via Canal 11, ao sorteio da 4.ª eliminatória da Taça de Portugal. Um sorteio, por definição, é uma maneira de escolher de forma impessoal, deixando por conta do acaso a escolha. O sorteio, tal como se desenvolveu, permite que a nossa imaginação divague e que coloque cenários e hipóteses.
As 32 bolinhas estavam todas já colocadas num pote quando a transmissão se iniciou. Como foram lá colocadas? A primeira etapa do sorteio foi a transferência de 16 bolinhas desse pote (das equipas que jogariam em casa) para um outro (das equipas que o fariam fora). Esta etapa não serve para nada, pois bastava ir tirando as bolas dum único pote.
A nossa imaginação coloca logo a hipótese de poder existir uma prévia colocação das bolinhas no primeiro pote que garanta, com alta probabilidade, que algumas (as que estão em baixo) se mantêm nesse pote. O pote era estreito e mesmo o movimento manual para baralhar as bolinhas não deve fazer com que a maioria das bolas em baixo possa passar para cima.
É legítimo um adepto do futebol português achar que há muito interesse em que Benfica, FC Porto e Sporting cheguem longe na prova, pelo que convém que não se defrontem prematuramente entre si e, se possível, que joguem em casa (que foi o que o sorteio ditou). Este sorteio dá azo a esse tipo de suspeitas, que não são de agora.
Sugerimos que a FPF seja mais cuidadosa nos sorteios que organiza, pois certamente não quererá que questões deste tipo possam ser equacionadas. Uma boa solução é usar uma geringonça como a dos sorteios do totoloto (sem intervenção humana, com todas as bolas na tômbola). É que sempre que há humanos envolvidos, há formas relativamente simples que permitem escolher as bolinhas "certas" (i.e., as quentes). E de fazer a imaginação fluir...