O célebre quinto momento da bola parada: foi assim que o FC Porto provocou um "bug"
PLANETA DO FUTEBOL - Como as estranhas tendências do futebol moderno levam a que se monte uma estratégia com marcação individual ao lateral-direito adversário.
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1 As marcações individuais sempre fizeram parte do futebol, mas, ao longo das épocas, incidiram mais nos goleadores ou criativos.
As tendências táticas têm, no entanto, mudado, ao ponto de hoje se detetarem essas vigilâncias noutros lugares menos naturais. Viu-se em Tondela, no plano de jogo de Pako Aystarán: para travar o Sporting estava uma marcação individual ao... lateral-direito leonino, Porro.
Nessa estratégia, mobilizou um jogador, Khacef, para o esperar à entrada do meio-campo ou, recuando, travá-lo atrás, fazendo então defesa a "5" com esse extra defesa-marcador encostado à esquerda.
Começou cedo a morder o "carrillero" sportinguista, viu um amarelo por isso, mas tanto o amassou que Amorim (como confessou no fim) acabou por o tirar. Meteu, então, um ala para jogar com o "pé trocado", Tabata, e tentar confundir essa marcação-encaixe. Não mexeu muito com o jogo, mas, com Porro fora dele, a verdade é que Khacef acabou por sair.
No fim, o Sporting acabaria por ganhar um jogo que o Tondela (como também confessou no fim) queria levar até aos últimos minutos para, então, tentar ganhar. Meteu Salvador Agra (no lugar de Khacef) para o fazer com a sua velocidade.
Ironia (previsível) do futebol, foi exatamente nessa altura que o perdeu. Numa rara ocasião, a bola ficou perdida na área, Tiago Tomás (o leãozinho obrigado a crescer mais depressa) apanhou-a e, com as orelhas em pé, logo a chutou para a baliza. O jogo (jogado aos quadradinhos) também não merecia muito mais.
2 O Paços de Ferreira tem um processo de jogo que parece um programa de computador, tal a precisão dos passos que dá. Para o desmontar, muitas vezes só mesmo indo para um momento à margem dos das organizações e transições. O célebre quinto momento da bola parada. Foi assim que o FC Porto, num canto desviado de cabeça pelo Matuzalém Pepe, ao primeiro poste, lhe conseguiu provocar um "bug", quando nada o fazia abanar. Antes, tinham entrado os agitadores Chico Conceição e Luis Díaz, mas a abordagem para desmontar aquele modelo informático de futebol era com alguém muito sábio nessa cirurgia da bola parada aérea. O tempo de Pepe permanece sem mexer um nervo da face com o passar dos anos.
3 A velocidade controlada no momento do travão para passar-cruzar. Esta é a expressão de jogo como ala (esqueçam lateral vindo da defesa, tal a forma como faz o corredor e aparece apenas no ataque) de Diogo Gonçalves. Numa fase de reconstrução do jogo encarnado, na entrada para a reta final da época, ele é o melhor produto novo feito por Jesus no seu laboratório posicional do onze.
Como as estranhas tendências do futebol moderno levam a que se monte uma estratégia com marcação individual ao lateral-direito adversário
O treino e o jogo em teoria
Em geral, um treinador quando entra num clube a meio da época, sem tempo para treinar, não mexe muito no primeiro jogo. Nem sempre é assim. Velázquez chegou ao Marítimo a meio da semana, quis ir logo para o banco e montou uma forma diferente para a equipa jogar e que, sem treinar, só transmitiu na teoria. Do sistema de três centrais, passou para 4x4x2 e a equipa jogou muito melhor, mais solta, rápida e eficaz na ligação meio-campo/ataque (sem perder coesão defensiva). A dupla Tagueu-Pinho combinou bem na frente e, no meio, a dupla Irmer-Bambock (perfil de trincos) segurou defensivamente o centro do jogo.
A principal nota diferenciadora surgiu, porém, entre faixa e centro, com Correa. É um jogador que sempre achei subaproveitado no Marítimo. É muito mais do que um ala. Tem técnica, visão de jogo e capacidade de passe. Deve jogar, por isso, mais por zonas interiores e a equipa, sem um médio-ofensivo criativo, precisa disso. Velázquez deu-lhe, desde a faixa, essa liberdade e a influência de Correa no jogo da equipa, a criar no ataque, logo se notou.
Nessa dinâmica, o Marítimo venceu o dérbi (frente a um Nacional que, a ganhar, cristalizou taticamente no jogo) e mostrou como, com esta nova cara tática, pode atingir naturalmente a permanência.