A JOGAR FORA - Opinião de Jaime Cancella de Abreu
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1 - Grande Benfica, grande campeão! O maior de Portugal comandou a Liga da primeira à última jornada - feito único, pelo menos, nas últimas dez épocas -, e fê-lo isolado desde a quarta jornada. Somou-lhe o registo de melhor ataque e melhor defesa, e, já agora, exibiu, de longe - de longe! -, o melhor futebol ao longo de praticamente toda a época. Só um extraterrestre caído episodicamente em Braga, a 30 de dezembro, ou na Luz, a 7 de abril, pode ousar colocar em causa o mérito do 38º título do Glorioso.
2 - Grande Rui, grande campeão! Colocou o foco da SAD na vertente desportiva, soube escolher um treinador com o nosso ADN, fez contratações cirúrgicas no mercado de verão - não me lembro de termos acertado tanto de uma vez só -, esteve sempre próximo da equipa, devolveu a união, o orgulho e o entusiasmo aos benfiquistas. Não lhe ouvi um discurso, uma frase, uma palavra que fosse sobre os rivais - só Benfica, Benfica, Benfica! Merece bem ser o primeiro ex-jogador a sagrar-se campeão (também) como presidente.
3 - Grande Roger, grande campeão! Mostrou que é possível um estrangeiro ganhar a liga dos treinadores mais sagazes do mundo, mesmo levando 38 jogadores para um estágio de pré-época, não rodando a equipa ou utilizando uma tática fácil de anular (foi do que o acusaram os especialistas). Foi um exemplo de fair play e elegância, assumiu, com sinceridade, os erros e dispensou desculpas esfarrapadas, lançou jovens e reciclou jogadores descartáveis. Agradeço-lhe como benfiquista, acima de tudo, mas como adepto também: o futebol português precisa de homens assim.
4 - Grandes jogadores, grandes campeões! Os atores maiores do 38 fizeram-nos vibrar à grande nos últimos dez meses, várias vezes atingindo um brilhantismo inimaginável há um ano atrás. Deixem-me, porém, destacar os jovens António Silva, Florentino, João Neves e Gonçalo Ramos, e os maiores dos reforços, Aursnes e Neres.
5 - Grandes adeptos, grandes campeões! Já sinto o vazio da falta das longas deslocações de carro, da paragem (obrigatória) em Pombal para comer e levar connosco o "maninho" Sílvio (do Pote do Leitão), da ansiedade que inevitavelmente precede os jogos, especialmente os jogos fora, do intenso convívio com os benfiquistas anónimos à volta dos estádios e na funzone da Luz, do desespero dos lances que correm mal e da festa dos golos e das vitórias, que foram muitas. Como aguentar sem isto até agosto?
PS - ao contrário da Sporttv, que me saneou de forma compulsiva - e cobarde! - por força da indigna subserviência dos seus responsáveis ao poder absolutista da FPF, o jornal "O Jogo" tem sido, para mim, um raro espaço de liberdade de opinião. Obrigado por me teres desafiado, Carlos Pereira Santos. Esta crónica, especial por ser a número 100, é-te inteiramente dedicada.