O calendário já não é o que era

Os dados estão lançados no arremesso formal, ou seja, já há datas marcadas para os jogos da Liga. Independentemente do sortilégio ou adestramento condicionado dos sorteios, a melhor notícia para o FC Porto é que terá uma primeira volta com duas deslocações a Lisboa para jogar na Luz e em Alvalade.

Se a recta final da próxima Liga tiver a dose de compromisso da passada, faremos depois o trabalho em casa. Para jogar contra Benfica e Sporting, fora do Dragão, nunca falta motivação nem nunca pernas tremem ou dúvidas assomam. Para uma primeira volta de excepção, o rumo para o qual o FC Porto deve apontar.

Outro calendário, mas que também joga com o nosso. A forma como o mercado das transferências funciona, nomeadamente o saudita, antecipa o fim da carreira de alguns jogadores em viagens com malas expresso repletas de petrodólares e acrescentas uns anos ao cartão de cidadão. Não voltam velhos à origem, voltam sem competição que se veja. Disso se reflectirá o futebol das selecções mas também o nosso, de consumo interno. Agora, qualquer cláusula de rescisão é um nado morto e não faltará muito para que, em cada contrato, haja uma para a Ásia e outra para o resto. Jogos com fronteiras. Para mais uma porta giratória de especulação.

Por mais que o futebol cresça na Arábia Saudita, Catar e paragens adjacentes, por mais que consigam reunir um grupo de jogadores, treinadores e dirigentes com qualidade, a antecipação do fim da carreira competitiva é quase uma certeza. Como um Real Madrid, galáctico e cheio de estrelas, mas sem competição ou exigência. A inevitável falta de relação com a massa adepta, tão recente e a crescer insuflada, não permite ultrapassar a ideia de que a especulação tomou conta do crescimento do futebol e que, a-cada-viagem-uma-lavagem. Demorará pelo menos uma década até que o desenvolvimento desta viragem árabe seja sustentado pela História e pelos seus adeptos. Até lá, o que acontecerá ao futebol, domesticado artificialmente pela tentação e pouco desejo?

Para marcar golos, para assistir, para levar jogo no coração. A chegada de Fran Navarro ao FC Porto é uma boa notícia já anunciada. Talentoso e conhecedor de tudo o que se joga na Liga portuguesa, com 37 golos em duas épocas pelo Gil Vicente, o espanhol procura atingir a maturidade competitiva num lugar onde tem tudo para ser feliz. Se ninguém lhe antecipar o calendário, desconfio que pode pegar de estaca a cada semana.