HÁ BOLA EM MARTE - Um artigo de opinião de Gil Nunes.
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Escalar a montanha só com um cantil de água.
O Benfica não roda muito os seus quadros e Schmidt estica o seu plano ao máximo: se tudo isto correu bem durante 23 jornadas, também vai correr bem nas 11 que faltam. Porque, tirando pormenores chamados Braga ou Vizela, supostamente está tudo na maior.
A estratégia é legítima, mas também pode ruir de um momento para o outro como um castelo de cartas. O Benfica vai vivendo muito sobretudo de quatro pilares - Grimaldo, Rafa, João Mário e Gonçalo Ramos - que sustentam toda a estrutura do ninho. E há a leitura do contexto: depois do que aconteceu em Vizela - em que o resultado mais justo teria sido a derrota encarnada - o desafio frente ao Famalicão representou o regresso do pilar de serenidade que tinha sido abalado na semana anterior e cujo regresso pode ser um problema para as águias.
E há jogos que deviam ter júri e ser pontuados no final. Frente ao Gil Vicente, o FC Porto realizou a melhor exibição do mundo com nove jogadores. E fica a questão: será que tal cenário já não tinha sido trabalhado no laboratório do Dragão?
9 Gonçalo Ramos: ataque à primeira bola
Uma dupla leitura: se o Benfica tem todo o mérito em capitalizar o rendimento dos seus jogadores, há aspetos do jogo que são mil vezes repetidos e que podem causar previsibilidade. Como o facto do Benfica viver muito de Gonçalo Ramos e da sua extraordinária apetência para o ataque à primeira bola. Ou, se quisermos, para ler a jogada um segundo antes que todos os outros e aparecer na zona certa para finalizar. Num jogo frente ao Famalicão em que Grimaldo - quer no corredor, quer no meio - voltou a ser decisivo na manobra ofensiva, o instinto de Gonçalo voltou a fazer a diferença. Apresentando também rotinas de médio, a atual temporada tem sido de confirmação plena: é craque.
8 Zé Carlos: tremendo
Num jogo em que o Gil Vicente mostrou várias debilidades defensivas e teve alguma sorte com o desenrolar dos acontecimentos, uma coisa foi evidente na estratégia frente ao FC Porto: era pelo lado direito do ataque. Era por ali - abanar o lado esquerdo portista. E, para transformar tal pensamento em realidade, era mesmo necessário ter um lateral direito sem medo de atacar, destemido no confronto individual e com capacidade para se articular com Murilo e todo o restante miolo gilista (que é de qualidade). De regresso a Barcelos, Zé Carlos foi o melhor em campo e, com uma assistência primorosa, serviu Fran Navarro para o golo que marcou a reviravolta.
8 Bracali: tranquilidade
Numa equipa do Boavista recheada de qualidade e de juventude, há um guarda-redes com 41 anos que tem registado uma das melhores temporadas da sua carreira. Seguro frente ao Arouca, determinante diante do Paços (brutal defesa logo a abrir a remate de Holsgrove), levou o Benfica ao desespero no jogo da Luz após parar uma grande penalidade e somar uma série de defesas bastante complicadas. Somando experiência e respondendo com critério a todas as exigências do jogo, o completo Bracali apresenta-se como um dos melhores guarda-redes da liga e sustenta um Boavista onde o sempre fiável treinador Petit tem matéria-prima para desenvolver.
VAR e a filosofia
Na ordem do dia: o VAR. No caso do fora-de-jogo é o novo Tratado de Tordesilhas. Para cá sim, para lá não. Nos restantes casos é a almofada de segurança dos árbitros: as imagens não mentem. Com ou sem VAR, será que não ficou tudo na mesma? É que não há máquina que consiga ultrapassar a dimensão da análise do homem.