PLANETA DO FUTEBOL - Opinião de Luís Freitas Lobo
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1 - O relvado com tufos de relva a saltar subitamente pareceu de veludo quando a bola chegou a Xadas e o remate saiu limpo em arco mesmo ao ângulo. Antes e depois, Martínez tropeçara e pisara a bola em cima da baliza e Alipour, após a ver ressaltar à frente, só conseguira desviá-la para o poste.
É impossível detetá-lo neste terreno mas o Marítimo tem dois dos jogadores mais atrevidos do campeonato: o renascido Xadas (que, pelo talento, acredito possa ainda vir a ser o craque que prometeu no início da carreira) e André Vidigal (avançado que inventa desde a faixa mas, com finta e instinto, também inventa perigo por dentro).
Embora fechando quando a pressão apertava, o seu 5x2x1x2 (em que o "1" é Xadas) aguentou bem o choque de contacto e segunda bola em que o jogo se tornou e conseguiu o mais importante taticamente em termos individuais para uma equipa que defronta o FC Porto: travar Otávio, fechando-lhe saídas da direita para o centro, o local de decisão onde nunca conseguiu tempo nem metros para ter a bola.
A sua saída nos últimos vinte minutos em que, na obsessão de ganhar, Conceição caiu na moderna ânsia primária das cinco substituições, lançou a equipa para o caos ofensivo no batatal. Meteu extremos (Pepê-Corona-Chico Conceição) trocou laterais, despejou mais um ponta-de-lança (Evanilson) mas apesar da avalanche ofensiva, a construção das jogadas para criar oportunidades e ter clareza de último passe perdeu-se.
2 - Quando, na segunda parte, com o Benfica a pressionar muito, Murillo fugiu veloz pela esquerda e isolou-se perante Vlachodimos (que defende o remate perigoso) deu a ideia que o Gil, então a segurar o 0-0, podia a então também lançar a arma do contra-ataque tal o adiantamento do 3x4x3 encarnado.
Ricardo Soares, porém, vendo crescer tanto a pressão benfiquista, meteu um terceiro central (Hackman), tirando o melhor médio de saída com bola (Fujimoto, belo jogador que pode crescer muito). Com isso, ainda com mais de 25 minutos para jogar, enfiou a equipa atrás numa trincheira. Em algumas jogadas, quase parecia ter jogadores pendurados na baliza. Acabou por perder, naturalmente.
Quando vejo este tipo de opções penso sempre que mais do que perder um jogo (que, com elevada probabilidade, perderia de qualquer forma) o treinador deixa de poder... ganhar alguma coisa. Penso na crença e personalidade que a equipa pode levar para outros jogos.
Reconheço neste Gil (escrevi a passada semana) capacidade para... perder de outra forma. Isto é, a jogar sem ser metido numa trincheira e tentar sempre forma de sair no contra-ataque. Ninguém pode ser feliz num jogo (e crescer para outros que pedem outras coisas) escondendo-se dele.
Portimonense longe de casa
O Portimonense parece-me sempre mais equipa nos jogos fora do que em casa. Mais concentrado, na disciplina a defender, na astúcia a atacar. Será questão mais mental do que tática mas é algo de que gostaria ver Paulo Sérgio falar. É demasiado evidente.
Em Tondela, partindo de um sistema que tanto podia dar um n.º 6-trinco como um terceiro central (dependendo de ter ou não bola, Willyan, avançava e recuava, fazendo linha de "5" quando necessário, mas resgatando sempre o posicionamento defensivo em largura com a rapidez dos laterais Mouffi-Candé a recuar). Assim, controlou sempre o jogo e esterilizou a posse dos tecnicistas velozes beirões. Para pegar no jogo, o sistema adiantava-se em posse com Lucas Fernandes, n.º 8 de técnica construtiva, a controlar sempre a bola.
Na segunda parte, a ganhar, reforçou o sector intermédio com o pivô Pedro Sá (saindo Carlinhos, médio mais adiantado) e assumiu a linha de "3". Esteve no rigor desse corredor central a base para a vitória.
A atacar, Beto é a referencia com remate no centro (n.º 9 forte e ágil) mas é na velocidade (com mobilidade para dentro ou vertical) dos alas (Aylton e Anderson) que cria, de raiz, mais perigo. em contra-ataque.
Uma equipa que nunca sei que cabeça traz para cada jogo.