PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 É comum os treinadores das equipas grandes queixarem-se do antijogo feito pelas pequenas.
Muitas vezes têm razão mas quando vejo muitos desses jogos fico a pensar noutro prisma da mesma questão quase indecifrável e ambos se cruzam. Porque se existe esse tempo perdido pelas equipas pequenas que páram o jogo, também existe o o tempo perdido pelas equipas grandes quando o jogo está a decorrer.
Estranho? Não. Se no primeiro caso é o antijogo puro (simula situações, como lesões, para o forçar a parar), no segundo é o antijogo da atitude competitiva certa que a equipa grande deve ter e não deixar correr o jogo esperando ganhá-lo pela sua natural superioridade ou, quando a ganhar (por margem tangencial), jogando apenas num modo de gestão do resultado.
2 Jesus queixou-se disso no fim do jogo com o Estoril, que esteve a ganhar desde os três minutos e sofreu o empate aos noventa: "Sentimos que o jogo estava fácil e a equipa sentiu que podia ganhar sem fazer o segundo golo". Não pode existir maior "antijogo tático-competitivo".
O Benfica pensou muitas coisas ao mesmo tempo (baseadas na gestão do desgaste em função de ter jogo da Champions dentro de três dias) e isso condicionou a exibição da equipa no passar dos minutos, num jogo em que começou cedo a ganhar. Um risco que aumentou vendo como uma dos seus principais deficits neste momento é a falta de agressividade de reação à perda da bola ao mesmo tempo que baixava o ritmo, facto personificado em João Mário e Rafa (gestor e catalisador, no meio-campo e ataque, de diferentes velocidades de jogo no coletivo).
Não se sentindo ameaçado pelo Estoril (que mantinha o jogo vivo devido à eficácia da organização sem bola, defendendo baixo se necessário), deixou o jogo correr até uma bola parada (um canto), que são como histórias à margem do jogo, levar o resultado para o local oposto que o jogo jogado estava a ditar. Clássico.
3 Conceição viu o seu FC Porto bater o Boavista desde cedo, mas na época passada, após estar a perder 0-2 ao intervalo, não poupou nas críticas aos seus jogadores pelo que não jogaram. Lembrei-me desta situação como contraste para esta jornada e assim, com um exemplo prático, se perceber a diferença entre o antijogo competitivo versus a postura competitiva de jogo certa na exibição duma equipa grande neste tipo de jogos.
Mais do que esperar a ética competitiva (romântica, audaz ou positiva) do adversário claramente inferior, a equipa grande tem de retirar, desde logo, margem tática para ele fazer esse antijogo (que, no fundo, é não deixar existir jogo) além da natural estratégia de reforço defensivo (e agressividade junta). Questão de antecipação competitiva.
Seguir o jogo ou os jogadores?
É um recurso que tenho quando um jogo não me está a entusiasmar muito. Passar antes a seguir jogadores dentro dele. Os que, por qualquer razão, mais me cativam. Vejo o Marítimo-Gil Vicente e sinto isso com as travessuras (ou doçuras) de André Vidigal sempre que arranca com a bola da faixa em diagonais zig-zag". Acaba a jogada como começa, a virar tudo de pernas para o ar (até ele próprio, literalmente).
O Gil é muito mais equipa. Tem inteligência na ponta das botas nos toques de Fujimito, Samuel Lino é perigoso na velocidade objetiva com bola e Navarro tem remate, mas o agitador de quem gosto é de Leautey, extremo que pensa bem as abordagens à bola/jogada. É rápido mas sabe abrandar, com técnica. Acho que é um jogador que podia dar mais.
O Arouca melhorou com a volta da mobilidade de André Silva (viu-se nos jogos com Paços e Tondela). É um n.º 9 que, sem medo do choque, salta muito bem da marcação em antecipação e vai, assim, buscar espaços vazios forçando, depois, a promoção do choque, mas pelo adversário. Faz toda a diferença. Vejam como foi buscar assim o penáli no lance do 1-0. Numa das equipas que pode crescer mais neste campeonato, é um avançado-centro que sabe jogar com o coletivo (sem perder a baliza).