PASSE DE LETRA - A opinião de Miguel Pedro, aos domingos n'O JOGO.
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No rescaldo festivo da conquista, pelo SC Braga, da Taça de Portugal, tive a oportunidade de poder assistir à receção e homenagem do plantel e comitiva pelo Executivo Municipal bracarense.
Um ato de grande significado, pois, como já escrevi anteriormente, a conquista de títulos por um clube como o Braga é o momento privilegiado de celebração catártica da respetiva comunidade. Aristóteles definiu a "catarse" como a purificação das almas por meio de uma descarga emocional provocada por um acontecimento. É nestes momentos de celebração de um título, em que as emoções estão inflamadas, que os valores do clube se podem integrar e interagir com a comunidade onde o clube se insere, aumentando a sua relevância social.
Esta "descarga emocional" esteve bem presente nas palavras breves proferidas por Carlos Carvalhal e António Salvador, que têm em comum uma caraterística bem bracarense: falam com o coração na garganta. Com a voz por vezes embargada pela emoção, Salvador aproveitou para enfatizar a necessária colaboração da comunidade bracarense para que o clube possa almejar a voos mais arrojados. Nesse contexto, pondo água na fervura das expectativas desmesuradas de alguns adeptos e comentadores, aproveitou para quantificar as condições mínimas necessárias para que o Braga possa lutar por um campeonato: ter 50% do orçamento dos crónicos candidatos e uma média de 20 mil adeptos com presença assídua nas bancadas (na época 2018/19 a média foi de pouco mais de 12 mil). Estes dois indicadores não serão fáceis de atingir; o primeiro, de natureza financeira e orçamental, dependerá em muito do incremento das receitas correntes, o que se espera que possa vir a ocorrer com a centralização dos direitos televisivos (ainda que, na minha opinião, muito vai acontecer até lá, pois os três habituais eucaliptos não vão querer perder uma fatia importante das suas receitas). Mas depende, também, da circunstância das empresas bracarenses (que são muitas e com muito potencial) perceberem que um clube forte, com presença habitual na Europa, é bom para toda a região e para o tecido económico.
Apostar no SC Braga, como parceiro de negócio ou como veículo de patrocínio, será certamente um incremento de valor para qualquer empresa bracarense que queira afirmar a sua imagem, dentro e fora do país. Isso potenciará o crescimento dos canais de comunicação do clube (ex. a Nextv) e a sua incremental implementação e disseminação pelo éter mediático, condição também essencial para um futuro SC Braga que se queria afirmar como candidato. Quanto à presença de uma média de 20 mil adeptos no estádio, tal desiderato ainda se torna um objetivo mais inalcançável, principalmente enquanto o Braga jogar no premiado estádio de Dume, vulgo Pedreira. Um belo estádio para os arquitetos, mas um péssimo estádio para futebolistas e adeptos.
O regresso ao 1º Maio será o único caminho para alcançar a meta dos 20 mil espetadores de média por jogo, mas este é um assunto consensualmente polémico e merecerá, por certo, tratamento numa futura crónica minha. Para já, todos ficaremos bem contentes com o regresso do público aos estádios, mesmo que estes sejam desconfortáveis.