Não sabemos se Ronaldo estará nos Estados Unidos, ou se resignará, como Messi. Ou haverá mais um recorde por bater, como ser o primeiro quarentão a marcar dois golos numa fase final.
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A jornada dupla de apuramento para o Mundial de 2026 acabou com um balde água fria. A antecedê-la, pela primeira vez, vozes de responsáveis e de jogadores assumiram que o título estava ao nosso alcance. Mostrar ambição é positivo, significa que não há pejo em sonhar alto, e o talento disponível justifica que se sonhe assim. O historial também é razoável - um campeonato europeu e duas Taças das nações -, longe ainda de selecções de países populosos como Itália, Alemanha, Espanha, Brasil, Argentina, França. A história pesa, é ela que às vezes faz a diferença nos momentos decisivos, com a sua pequena história, se Portugal ganhar um Mundial será um meio recorde: o primeiro campeão do mundo com uma base de recrutamento de dez milhões de pessoas, só ultrapassado pelo bicampeão mundial, o Uruguai, que hoje tem três milhões e meio, e em 1950, quando ganhou o último torneio, nem três milhões teria.
Sem dúvida que ganhar um mundial seria uma façanha extraordinária, mas o Dr. Freud diria que fizemos duas exibições frouxas depois da verbalização da candidatura, ainda que tímida. Foram muitas as dificuldades para passar os autocarros no terreno. E se perante a modesta República da Irlanda surgiu um inesperado e tardio golo de cabeça de Rúben Neves (o primeiro na selecção, conferindo ao momento um toque de fraternidade poética, pois traz na perna a tatuagem do amigo Diogo Jota, como se fosse o espírito de Jota a guiá-lo na área quando foi preciso um golo de oportunidade), já contra a Hungria o apagão foi claro. Portugal esteve mais desconcentrado, como se o recorde de Ronaldo atrapalhasse a inteligência da equipa. Quando estávamos a perder, houve até um episódio caricato junto à área da Hungria, entre Nuno Mendes e Ronaldo, na marcação de um livre em que entregaram a bola ao adversário por não se entenderem, tal era a preocupação de servir tudo a Ronaldo.