SENADO - Um artigo de opinião de José Eduardo Simões.
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O novo presidente do Benfica, ungido pela comunicação social, vai ter uma tarefa difícil, pois sabe que há que manter o rumo mas tem que mostrar que o delfim desconhecia aspectos menos positivos do passado recente.
A participação de um número elevado de associados é um aspecto a vincar porque a vitalidade dos clubes é tanto maior quanto mais assembleias gerais e mais debates esclarecedores se fizerem, mais informação relevante for disponibilizada, enfim, mais democracia estiver presente em todos os momentos.
Pelo contrário, a ausência de informação, AG e debates significa que os dirigentes têm falhas graves de conceitos de transparência, rigor, boa gestão, democracia interna, são medrosos (ou oportunistas, ou usam os clubes, SDUQ e SAD em proveito próprio e dos seus amigos) e se estão nas "tintas" para os sócios. Neste caso o divórcio entre dirigentes e associados cava-se até ao ponto da ruptura ou do desinteresse geral - e o clube afunda-se até desaparecer.
O poder encarnado tem alguns novos ocupantes que se confrontarão com os mesmos desafios dos rivais: a necessidade de manter, ou recuperar, a hegemonia nacional deverá ser a grande prioridade. Olhar para o panorama europeu/mundial e pretender alcandorar Benfica, ou Porto, ou Sporting, ao nível dos maiores tubarões é uma miragem. Chegar lá próximo exige muito trabalho de formiga, em Portugal e mercados internacionais, continuidade, cabeça fria em termos financeiros e capacidade de resistência para não embarcar em fugas para a frente quando os resultados forem menos bons. É que o mesmo não pode ganhar sempre. Noutros campeonatos, só na Alemanha a hegemonia do Bayern de Munique persiste. Em França é praticamente o mesmo, embora na época passada o Lille (de Fonte ou Renato Sanches) tenha surpreendido o super favorito PSG e conquistado o campeonato. Em Espanha, Itália, Inglaterra há boa e salutar alternância. Em países mais pequenos em termos de população, a chamada "segunda divisão", a luta pelos títulos existe e torna os campeonatos mais imprevisíveis.
Mas o poder financeiro e, consequentemente, desportivo, dos colossos europeus (com as excepções dos que são "brutalmente" mal geridos, como o Barcelona) está a aumentar e vai crescer mais, fruto da chantagem sobre as receitas que UEFA e FIFA fazem chegar aos clubes; da pressão, que penso correcta, sobre pagamento dos salários dos jogadores durante o tempo que estão ao serviços das selecções; e, finalmente, da onda de aquisições de clubes hoje secundários por "magnatas" cheios de dinheiro. A ideia base é crescer, porque há verbas e margem para tal, ao contrário dos que já estão no topo da pirâmide, que são os alvos a abater.
O caso mais recente é o do Newcastle, histórico clube britânico que tem andado no sobe e desce nas últimas décadas. Foi adquirido por capitais da família real saudita, cuja fortuna não deverá andar longe do somatório das riquezas dos restantes donos de clubes do Reino Unido. E outros emblemas, para além de Manchester United e City, Liverpool, Chelsea, Tottenham, Leicester e Arsenal, estão a ser vendidos a fundos de gente com grande poder financeiro e vão igualmente lutar, com melhores armas, por um lugar ao sol na maior liga do futebol mundial.
O caso Newcastle, fora a questão do que significa, em termos sociais, o exemplo do reino saudita (e os chineses, os russos e outros o que são?), é o expoente máximo desse futuro com que os maiores clubes portugueses estão confrontados. Mesmo em Inglaterra os actuais dominadores estão receosos deste novo poder de fogo financeiro, capaz de comprar os melhores jogadores da actualidade, de criar um novo grupo desportivo de âmbito mundial e de assim passar a dominar o futebol europeu e mundial. Os novos tempos vão ser muito complicados!