FORA DA CAIXA - Um artigo de opinião de Joel Neto.
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O novo formato da Liga dos Campeões contraria duas das mais importantes lições que o futebol deu ao desporto e ao mundo.
As novidades vêm surgindo a conta-gotas, mas são desconcertantes
A importância de um corpo de regras simples e facilmente discerníveis; e a urgência de estabilidade na manutenção dessas regras. Voltando a mudar, já ia contrariar a segunda lição. Ao mudar como vai mudar, contraria a primeira.
As novidades vêm surgindo a conta-gotas, mas são desconcertantes. O novo sistema de calendário e pontuação é tão complexo, tão cheio de sobressaltos e ressalvas, que nem o especialista mais atento consegue decifrá-lo. Imagino quando for hora de nós, os mortais, o fazermos.
Como se esperava, o sistema de rankings vai ser-nos desfavorável. As quatro principais ligas nacionais serão representadas por cinco a seis clubes cada, portanto 75% do total das vagas. Isso deixa 25% das vagas para todas as restantes, e naqueles primeiros 75% nem está contabilizada a França. Imagino a aflição de Holanda, Áustria, Ucrânia, Turquia, Sérvia ou Grécia - esses países de onde, de vez em quando, vinha um brilharete.
A UEFA tenta proteger a sua dama agradando a todos e, provavelmente, não agradará a ninguém.
Mas o pior, mesmo, é aquilo de as equipas não poderem jogar contra todos os adversários; de não haver jogos em casa "e" fora, mas "ou" fora; de as equipas jogarem maioritariamente com as do seu nível, mas os pontos contarem todos para uma mesma classificação; de muito poucos, afinal, ficarem excluídos do acesso aos oitavos-de-final; mesmo de alguns jogos passarem para a quinta-feira, pisando a Liga Europa - em suma, uma confusão.
Acossada pela mobilização em torno de uma Superliga Europeia, a UEFA tenta proteger a sua dama agradando a todos. Provavelmente, não agradará a ninguém. E, se de facto protegerá o que quer que seja, ainda vamos ver.
