Vítor Bruno tem muitas contas a fazer. Só se avança pelo erro, mas sem exagerar. Espero que o meme Maguire não deixe mossa.
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Ao cabo de dois meses, o adepto não resiste a um pequeno balanço do Porto de Vítor Bruno, mesmo que seja pouco recomendável fazê-lo na ressaca dum empate inglório. Noutros tempos, empatar contra o United era digerível, mas este United é uma espécie de saco de boxe da Premier League, daí o sopapo ter sido mais duro, ainda que anunciado nos últimos minutos pelo recuo contra dez. Que o golpe tenha sido dado num canto, no lavar dos cestos, pela cabeça de Maguire, o maior meme do futebol inglês, só acrescenta uma pitada de amargura ao empate.
Tirando isso, a ala direita portista fez mais pela reabilitação de Rashford do que os psicólogos de Manchester. O contestadíssimo Ten Hag fez a fineza de o tirar ao intervalo para aliviar a tontura de João Mário, mas soltou-lhe Garnacho, que se tornou mais intratável depois da expulsão de Bruno Fernandes.
Se entrar a perder por dois pode ser um acidente, conseguir dar a volta é sinal de que os pergaminhos estão intactos, não fosse o anticlímax de desperdiçar o fruto da reviravolta no último fôlego. Não saber o que fazer com uma superioridade numérica faz parte do aumento da tarifa competitiva, são dores de crescimento de uma equipa jovem, mas sofrer seis golos em dois jogos da Liga Europa é demasiado gelo e um motivo de preocupação, embora ter marcado cinco seja consolador.
Descontando os golos concedidos por baldas individuais, perdas de bola em zonas proibidas por displicência (Otávio, o enfeite de Iván Jaime na Noruega seguido de reclamação de falta; Pepê com dislexia de pés no segundo golo do United), os restantes têm a ver com macieza, marcação com os olhos, ingenuidade, nostalgia masoquista da gesticulação e da gritaria do banco para sacudir o torpor, ao melhor estilo de Conceição.
Certo é que a equipa vê jogar, pressiona mal, rouba poucas bolas, talvez poupando-se para o momento em que lhe caiam nos pés, o que remete para uma condição física que levanta interrogações: Outubro entrou e há jogadores como Varela, João Mário, Nico que ficam sem pilhas ao fim de uma hora de jogo?
No começo da época, apesar dos três golos sofridos na Supertaça, a equipa mostrava um bloco mais compacto e agressivo. Mesmo com Namaso não cumprindo o papel de avançado tradicional mas engrossando o meio-campo e abrindo espaço para Nico finalizar, havia mais mobilidade e segurança, flancos menos expostos, maior compensação dos desequilíbrios.
Agora, só o novato Samu pressiona e se revolta, colocando um paradoxo interessante: no momento em que o scouting descobre um ponta-de-lança como não se via desde Falcao, é quando a defesa mais vacila. Por um lado, um ataque ao rubro, golos em catadupa, por outro, a rectaguarda revelando uma porosidade inesperada. A somar a isto, Galeno não se recompôs do fabuloso destino gorado nas Arábias. Pepê tem fogachos e eclipses, e até Diogo Costa duvida da barreira que tem à frente.
Vítor Bruno tem muitas contas a fazer. Só se avança pelo erro, mas sem exagerar. Espero que o meme Maguire não deixe mossa.