VISTO DO SOFÁ >> Os responsáveis da Nike, aliás, foram explícitos: quem não gostar da cruz azul e roxa ou da nova camisola do seu clube que olhe para outro lado
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O novo equipamento principal da selecção inglesa tem sido muito contestado por ter a cor da cruz de São Jorge, um símbolo nacional, em tons de azul e roxo, em vez do tradicional vermelho e branco. Ergueu-se um coro de protestos que inclui ex-jogadores, como Seaman, Shilton e Souness, muitos adeptos (há uma petição pública que já vai em mais de 20.000 assinaturas), até o primeiro-ministro, Rishi Sunak, que disse: «Não deveriam brincar com bandeiras, porque são uma questão de orgulho, de identidade, e são perfeitas como são». E é assim mesmo: as coisas sagradas caracterizam-se justamente pela sua imutabilidade, não lhes podemos tocar.
No entanto, a Nike já fez saber que não vai corrigir nada. Os seus designers é que decidem de que cor são as cruzes sagradas e os equipamentos e símbolos de selecções e clubes. Dizemos e escrevemos «os encarnados» ou «os azuis e brancos», mas olhamos para o televisor e os encarnados e os azuis e brancos estão a usar camisolas amarelas, roxas, verdes. Algumas, matizadas, de autor, nem se sabe de que cor são. O que se sabe é que essas camisolas não representam, nem significam, só servem para serem bonitas (e nem isso são, na maioria dos casos) e serem vendidas por um preço exorbitante (a inglesa da polémica custa 150 euros). Graças a esta barbárie, os adeptos já não sabem de que cor são as camisolas do seu clube. Na verdade, têm as cores que os designers da Nike, da Puma, da New Balance e da Adidas quiserem. Como se já não bastasse estarem conspurcadas pela publicidade e serem autênticos cartazes ambulantes. É isto: primeiro perdemos o amor à camisola, que já só se encontra nas histórias românticas do passado, agora perdemos a camisola. Já não temos mais nada a perder.