CRÓNICAS DO FUTEBOL - Uma opinião de José Eduardo Simões
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Devido às dificuldades financeiras persistentes é cada vez é mais difícil adquirir jogadores de eleição nos mercados mundiais preferenciais (América do Sul) ou aproveitar os que outros não conseguem potenciar.
As maiores vendas são de jogadores da formação feitas por Jorge Mendes. Que jogadores tem hoje o FC Porto que possam interessar aos maiores clubes europeus? Os quais nem se importam de esperar pelo final dos contratos de quem lhes interessar, nem que seja para serem suplentes de luxo? Quem saiu dos azuis e brancos nos últimos cinco anos e entrou de caras nos grandes e é titular habitual das respectivas selecções? Quando o dinheiro é escasso, a prospecção tem que ser ainda melhor e escolher em menor número mas bem, e não muitos para ver se se acerta em algum.
Noutro domínio, a estratégia Norte contra Sul já não surte efeito, até porque o país está anestesiado e vergado ao poder. A comunicação dos subsídios e avençados pagos defende interesses instalados. As redes sociais são terreno fértil para largar todo o fel, má educação, falta de respeito, agressividade e ódio existentes na sociedade. Hoje, como antes mas em circunstâncias diferentes, o FC Porto está dependente de um homem. Que não é o Presidente, mas sim o treinador Sérgio Conceição. Com os seus humores variáveis mas uma enorme coragem e resiliência face às circunstâncias de apanhar um clube em "perda de gás", é Sérgio que faz a equipa funcionar, que lhe transmite força de vontade e mantém o espírito competitivo em alta (o jogo com o Atlético de Madrid, e outros como Juventus e Chelsea, são exemplos de equipa que não tem receio de jogar contra outras repletas de craques e onde o dinheiro abunda), e ainda tem tempo para fazer crescer miúdos da formação, mais uns para assegurar boas receitas, dar o corpo às balas atiradas de todos os lados e proteger os seus.
Mas que FC Porto para o futuro? O modelo Ajax, assente na excelente formação e escolhas de estrangeiros muito bem feitas, para venda com mais valias elevadas, que consegue fazer umas flores mas não é dominante nos grandes palcos? O de City, PSG, Red Bull e outros que estão ancorados em donos/accionistas que investem muito dinheiro e formas grupos empresariais mundiais, com a aquisição de clubes que interessem à estratégia do navio almirante? Quer ser um emblema de resistência ou uma potência temida pelos adversários onde os melhores jogadores sonham jogar - antes de irem para os maiores palcos? Quer penar ou elevar-se a outros patamares que já foram os seus? São perguntas necessárias.
Talvez se esteja no que se designa por fim de ciclo, um ciclo histórico dificilmente repetível que começa a perder-se no tempo. Quando assim é diminui a vontade de mudar, fazer diferente, melhorar, corrigir erros, criar oportunidades, definir estratégias a médio prazo, e instala-se o regime de gestão do dia a dia, época a época, a ver no que dá. É pouco.
A continuar assim, o FC Porto vai perder competitividade. Pouco a pouco, ou mais rapidamente se Sérgio decidir sair. Ao contrário do Benfica, que definiu e está a executar uma estratégia global coerente para os próximos 10/15 anos, quem dirige o FC Porto, ou quem o pretenda dirigir, os seus sócios e apoiantes, deviam aproveitar o tempo que este treinador lhes está a dar para definir uma estratégia concorrencial à dos encarnados. Para que o trono nacional não se torne miragem, ou se assista ao regresso ao FC Porto secundário anterior aos anos 80. Essa estratégia, tal como pensar a sucessão de Pinto da Costa, não deve ser adiada sine die. Em cada ano que passa, não é provável que o FC Porto se fortaleça e depois pode ser tarde demais. E certamente que o jovem Pinto da Costa dos anos 80 nunca permitiria que tal sucedesse ao seu FC Porto.