FORA DA CAIXA - A opinião de Joel Neto.
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Na segunda-feira, na rádio, discutia com a minha parceira de debate o negacionismo e os negacionistas. Falávamos da covid-19 e também do terraplanismo, da chegada do homem à Lua, do rasto dos aviões e até do Holocausto. E ocorreu-me: não é à procura da vertigem negacionista, igualmente, que as televisões passam horas por semana a repetir penáltis em câmara lenta?
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É em busca daqueles que querem recusar mérito à vitória do adversário que elas vão. Daqueles que precisam de encontrar uma explicação para o facto - assim refutado - de o adversário ter sido melhor do que eles. Deles e do próprio adversário, que a seguir responderá. Nenhuma discussão será mais longa do que essa, e nenhuma prenderá tanto o espectador ao televisor também.
Portanto, o negacionismo anda nos temas mais candentes da atualidade, como anda naqueles que apenas chegam a essa categoria porque as televisões o querem. Um penálti não assinalado. Um lance sem infração transformado em penálti. Possibilidades de negacionismo, no fundo. De rejeitar a verdade e, inclusive, de propor em seu lugar uma verdade melhor. Ou mais conveniente.
E, se o fazem os jornalistas, é porque é isso que o pretende o espectador. Nisso estamos todos juntos: temos as televisões, as rádios, os jornais e os portais noticiosos que merecemos. Se queremos melhor, só exigindo. Menos repetições, menos ângulos, menos intervenções de especialistas, menos debate acalorado em torno de penáltis parece-me uma boa maneira de começar.
A vozearia em fundo é sempre a nossa. Na verdade, não há muita diferença entre os que negam a covid-19, a chegada do homem à Lua ou o facto de a terra ser redonda e cada um de nós. Às vezes, a diferença é apenas a nossa equipa ter ganhado ou ter perdido.
