Só no nosso futebol vemos as instâncias disciplinares constantemente a resolver litígios que, noutras ligas, ficam sempre pela esfera pessoal. No fim, perde-se bastante mais do que se ganha.
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Processos como o caso da garagem do Dragão são raríssimos fora de Portugal. As altercações entre agentes do futebol acontecem em todo o lado, mas lá fora há a perceção de que, no final, perde-se demasiado com a autópsia jurídica destes episódios extra jogo. Essa sim, é uma característica muito portuguesa: fazer os possíveis por agravar na secretaria aquilo que, de origem, já foi mau o suficiente.
Noutras ligas, estes incidentes são vistos como um embaraço para todas as partes que urge esquecer, ou, no máximo, como questões pessoais que devem ser tratadas em fóruns mais privados (o meu ponto de vista). Em Portugal, são uma festa que há de ser celebrada por muitos e muitos anos. Acredito que alguns dirigentes hesitariam se lhes dessem a escolher entre uma vitória no campo e um caldinho épico de que possam apresentar-se como vítimas ou como exemplos de virilidade indomável, tanto faz.
Notem: não falo do que sucedeu no relvado, nesse FC Porto-Sporting, em particular das mãos lampeiras, como diz a minha mãe, dos arrumadores de publicidade. Essa parte tem de ser resolvida e bem. Falo do pedido de satisfações na garagem, depois de um ataque verbal de Frederico Varandas ao presidente do FC Porto, e das versões e reversões que se seguiram. Das tentativas de agressão que o processo desmente, dos insultos revelados em demasiado detalhe, dos castigos previsíveis que dificilmente compensam os custos em credibilidade, e do verdadeiro objetivo da queixa, que era, obviamente, suspender Sérgio Conceição. Ilibado este, sobra o quê? Um mau exemplo seguido de outro mau exemplo e demasiada informação sobre ambos.