No meio de tantos problemas, que paz terá Silas?
Os Cinco Violinos marcaram fortemente a história do Sporting e os adeptos sofrem com a saudade desses tempos de glória que não voltaram a repetir-se
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1 - Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Tavares e Albano são nomes que dizem muito, ou tudo, aos sportinguistas. Juntos marcaram mais de 1200 golos, juntos foram tricampeões entre 1946 e 1949; quatro deles (a exceção foi Peyroteo) estavam na equipa que se sagrou tetracampeã entre 1950 e 1954.
Desde aí, as vitórias do Sporting no campeonato foram esporádicas e ontem fez 20 anos que, com Augusto Inácio no comando, terminou um jejum de 17 anos. Ou seja, os Cinco Violinos, porque é deles que aqui se fala, marcaram fortemente a vida do Sporting e dos sportinguistas, que vivem com saudade esse tempo.
O Sporting pertence ao rol de cinco equipas que conquistaram campeonatos em Portugal - Benfica e FC Porto, mais Belenenses e Boavista, estes dois infelizmente desaparecidos dessa luta, completam esse estrito grupo. O Sporting é um clube histórico, com peso na sociedade portuguesa, e não apenas peso desportivo, e que tem uma massa adepta fantástica, muito característica, muito apaixonada.
Uma primeira questão: como é que um clube tão grande tem de passar, amiúde, por tantas complicações? Eu já estive no Sporting como treinador, e foi com grande prazer e orgulho que cumpri essa missão, e não me apercebi do que está na origem de tanta inconstância; ou melhor, mesmo estando lá dentro, eu, como muitos, não consegui entender onde está o mal.
Quando o Sporting terminou com um jejum de 17 anos, teve uma boa oportunidade para voltar aos tempos dos Cinco Violinos. Mas não, caiu outra vez num terrível e longo jejum. E já poucos acreditam que seja nesta época que ele vai terminar.
O último ano foi dramático para o Sporting; vem já da época passada, com aquele terrível assalto à Academia, prolongou-se depois com a mudança técnica de José Peseiro para Marcel Keizer, e agora com este mau arranque. A pré-época foi preenchida com maus resultados, a goleada na Supertaça foi uma péssima maneira de começar, as dúvidas sobre Bruno Fernandes, sai ou fica?, acabaram por ter influência direta no rendimento da equipa, e parece-me haver reais dificuldades financeiras, que não ajudam a preparar bem uma época.
Depois veio Leonel Pontes, com a inconveniência de ser anunciado como um treinador a prazo. Houve decisões que não ajudaram muito a pacificar as coisas. No meio de tudo isto, que paz terá Silas para trabalhar, sendo que é urgente que os resultados, os bons resultados, voltem?
2 - Todas estas complicações acabam por fazer as suas vítimas, que normalmente começam por ser os treinadores, mas a sequência de acontecimentos pouco agradáveis acaba por atirar para o lado sistemas ou modelos de jogo. As discussões passam a ser fúteis e com certeza que o clube não ganha nada com isso.
O Sporting vive um tempo em que precisa de parar para refletir. Aqueles que conhecem bem de perto o clube, a sua história, a sua identidade, são responsáveis por promoverem essa discussão e encontrarem o caminho que o leve de volta aos tempos de glória.
O Sporting também teve a sua hegemonia e se calhar não era mal pensado olhar para o passado, ver o que se fez de bom e copiar. E nem precisam de recuar aos gloriosos tempos dos Cinco Violinos...