A condenação do encontro "off the record" entre Roger Schmidt e um grupo de jornalistas e analistas confirma que algumas mentes brilhantes preferem imaginar do que conhecer.
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Tenho pena de não ter sido convidado para o encontro "off the record" que o Benfica promoveu entre jornalistas, comentadores e Roger Schmidt, mas O JOGO esteve lá, como estará sempre, desde que o convite não misture profissionais com adeptos (sim, mesmo sabendo que há comentadores a dar para os dois lados).
Não podemos queixar-nos das portas que nos fecham e depois desprezar a frincha que nos abrem.
Levado para caminhos errados pelo diretor de comunicação do FC Porto, o episódio serviu de pretexto para algumas tristes figuras (e ainda mais erradas) de alegados jornalistas que, sem querer, acabaram por finalmente explicar ao público os motivos de tanta palermice dita aos microfones e tantos anos de leituras estapafúrdias: acham que jornalismo é uma atividade que se pratica, exclusivamente, no perímetro estabelecido pelas próprias orelhas, convenientemente seladas para que nenhum murmúrio exterior perturbe o brilhantismo das suas ideias nascidas de imaculada conceção. Explica a simplicidade, sempre espantosa, com que se tira rápidas e elaboradíssimas conclusões sobre pessoas, locais e acontecimentos longínquos e desconhecidos.
O jornalismo não se joga num gabinete, nem de dentro para fora. Para esclarecermos, precisamos, primeiro, de ser esclarecidos e nunca estamos esclarecidos o suficiente. Achar que estamos é o pecado capital da profissão. E acharmos também que, pelo facto de aceitarmos ter uma conversa com alguém, vamos ficar maculados para todo o sempre e incapazes de continuar a pensar pela nossa cabeça é reduzir o jornalista à infantilidade. Pensem comigo: um jornalista que contacta uma fonte, no fundo, a pedir uma notícia fica mais ou menos endividado do que o jornalista que é convidado pela fonte para a ouvir? Como faríamos o nosso trabalho se não falássemos, todos os dias, com fontes? O bom jornalista fala e sabe manter-se íntegro. O mau jornalista ou não sabe ou confia tão pouco na sua integridade que prefere nem se aproximar delas.