"No futebol não está, ao contrário do que dizem, tudo inventado"
PLANETA DO FUTEBOL - Luís Freitas Lobo desmonta o menos óbvio do que sucedeu no Liverpool-FC Porto, na primeira mão dos quartos de final da Liga dos Campeões
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1 - Foi, taticamente, um jogo complexo de preparar. Em tese (pela força adversária e limitações de jogadores a utilizar), a ideia era boa. Sem um defesa-direito forte disponível (Militão tinha de ser central e Maxi perdeu a intensidade reativa de outrora), Conceição como que criou uma subestratégia (dentro da global) para proteger melhor essa faixa no momento defensivo. Assim, criou uma dupla de laterais, Corona-Maxi, com uma dupla missão. Sem bola, Maxi fechava dentro como terceiro central e Corona recuava a cobrir na faixa, impedindo o um para um que Mané poderia criar. Ficava uma defesa a 5 que, bem posicionada, teve, naturalmente, dificuldade de entrosamento móvel na ligação entre linhas em face de nunca ter jogado assim. A verdade é que o perigo que Mané criou poucas vezes o fez por esse lado. O que falhou mais, noutra face da subestratégia, foi Corona soltar-se no momento ofensivo, com bola. A defesa a 5 teve dificuldade a passar a 3 a atacar em face das limitações dos dois laterais, Alex Telles (físicas) e Corona (táticas).
2 - Num flanco onde o Liverpool tinha um lateral adaptado, durante o jogo questionava-me porque Marega não aparecia mais vezes pela direita nas costas de Milner, em vez de estar sempre na esquerda em diagonais. Criou assim, é verdade, lances de golo, mas ficou a sensação de que, por vezes, fazer trocas posicionais com Otávio (vindo da direita para ser por dentro o terceiro médio) podia ter confundido mais a estrutura defensiva do Liverpool . Depois dum início taticamente nervoso (no passar do 5x4x1 a defender para o 3x4x3 a atacar), a equipa estabilizou, soube utilizar o baixar de ritmo de jogo (após o 2-0 o Liverpool baixou a intensidade em posse, mantendo-a, porém, a recuperar) para equilibrar-se taticamente e melhorar a transição pelo centro onde Danilo e Óliver não estavam a ter (nem ver) linhas de passe para sair e meter a bola nas referências ofensivas (fixas ou que apareciam no desdobramento ofensivo dos... dois sistemas utilizados pelo FC Porto em Anfield).
"O FC Porto viu como jogaram City e Leicester, únicas equipas que travaram o Liverpool em Anfield, e inspirou-se nisso. O Braga no jogo do campeonato com o FC Porto andou perto duma estratégia semelhante"
3- O FC Porto viu como jogaram City e Leicester, únicas equipas que travaram o Liverpool em Anfield, e inspirou-se nisso. O Braga no jogo do campeonato com o FC Porto andou perto duma estratégia semelhante a defender (com Goiano por dentro a terceiro central e Esgaio a recuar para fechar na faixa). No futebol não está, ao contrário do que dizem, tudo inventado, mas, muitas vezes, é nesta espécie de reinvenções do que já se fez (ou viu-se noutros locais) que se podem encontrar as melhores adaptações de ideias a situações diferentes (porque todos os jogos, e equipas, são diferentes).