"Neste momento, Chiquinho precisa de espaço... mental!"
Chiquinho, Mateus e o susto do onze do Sporting em Paços: o enigma de quererem que os jogadores sejam mais do que são!
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1 - Tentar resolver o problema duma equipa pensando que meter só uma peça nova em todo o seu mecanismo irá resolver o coletivo é um exagero, mas muitas vezes pode ser fundamental para ela passar a funcionar muito melhor (em determinados aspetos, pelo menos).
O Benfica tem-se debatido com isso na casa tática do segundo avançado, que quis extinguir no novo modelo para esta época (metendo dois n.ºs 9 puros lado a lado) mas que rapidamente percebeu ser indispensável para o tal funcionamento coletivo.
Assim, num contexto de necessidade tática tão específica, um jogador dito "normal", apesar do potencial imaginado, pode tornar-se indispensável no onze. É o que sucede com Chiquinho. Entrou bem contra o Portimonense, jogando sem medo de ter a bola e passar, mas tudo do que se fala à sua volta é mais do que se imagina que poderá fazer (projetando-o de equipa pequena para uma grande) e do que efetivamente já fez.
Imaginar o que os jogadores podem fazer é dos exercícios mais atraentes e difíceis no futebol, porque tudo pode ultrapassar meras questões táticas ou técnicas.
Neste momento, Chiquinho precisa de espaço... mental! Poder respirar sem lhe estarem a pedir o mundo. Jogar o que sabe e, nesse sentido, dar à equipa o que ela precisa. Só assim deixará de ser somente "normal".
2 - O Paços é uma equipa que já percebeu que dificilmente irá deixar de ser sugada para a luta pela permanência. Tem um onze combativo mas com muitas limitações. Quando subiu os níveis de intensidade, bastou, porém, para colocar o atual Sporting atolado nas suas dúvidas, incapaz de gerir o jogo e segurar a bola.
O jogo que parecera fácil, pois dominou toda a primeira parte, tornara-se incontrolável na segunda por falta de personalidade e qualidade técnica do meio-campo, onde Bruno Fernandes tenta multiplicar-se por dez. A dupla Doumbia-Eduardo era como um susto numa noite de Halloween. E assim se ia afundando, até que surgiu a ironia de o melhor jogador do Paços, Luiz Carlos, fazer um penálti esotérico (inexplicável) e voltar a dar o resultado (e o jogo tranquilo) ao Sporting.
O Boavista continua a ser a única equipa sem perder. Notável pela forma como segura resultados mesmo assumindo que não pode disputar o jogo, no sentido de o dividir em controlo ataque-defesa-ataque. Fez isso contra o "Braga dos cruzamentos" que surge no campeonato, o oposto do jogo mais apoiado (pelo espaço que tem) da Liga Europa.A fechar, a antologia de outro jogador "normal" que nunca quis ser craque e que o podia ser, pelo que sabe jogar e executar: Mateus, assinatura final com golo de muita classe.