HÁ BOLA EM MARTE - Um artigo de opinião de Gil Nunes.
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Em frio. O tal FC Porto-Gil Vicente que custou os três pontos que não deram o título. E em gelado: teria sido preferível realizar uma exibição sofrível e ter vencido do que apresentar uma notável competência a jogar com nove.
Mas a realidade é crua: no FC Porto de Sérgio Conceição pode não abundar a criatividade individual mas a versatilidade tática com que se abordam as partidas, bem como a capacidade para lidar com o imponderável, tornam os dragões favoritos nesta final da Taça.
Há algo de inequívoco. Nem FC Porto nem Braga precisam da final da Taça para salvar a época. Longe disso. Com dois dos quatro títulos nacionais no bolso e uma liga perdida ao sprint - isto numa temporada turbulenta - os dragões têm cabeça limpa para procurar no mercado o pequeno upgrade que é necessário. Já o Braga, que apresentou uma dinâmica ofensiva considerável, pensa como uma equipa grande e sabe que a próxima temporada terá de ser melhor do que esta. Manter o rumo e limpar os desaires Sporting e Fiorentina que, não sendo destrutivos, abanam um pouco a mentalidade edificada.
8 Al Musrati: a luz que faltou
Foi um dos momentos da liga: de todos os jogadores do Braga que podiam ter falhado a partida frente ao Benfica, calhou logo a rifa ao mais decisivo: Al Musrati. O Benfica, que foi competente mas também teve a sorte do seu lado, agradeceu. Sempre a mais-valia e o pêndulo do meio-campo, o critério com que Al Musrati aborda todos os momentos catapultam a dinâmica ofensiva da equipa ao mesmo tempo que o seu posicionamento maduro garante que o Braga não se parte no momento defensivo. Com capacidade para jogar com ambos os pés e ainda por cima com faro de golo, se estiver bem fisicamente pode garantir o tal efeito indireto da sua presença: todos parecem jogar melhor.
8 Taremi: determinante
Um pouco à semelhança do que acontece com Otávio, também Taremi parece desempenhar vários papéis dentro de um só jogador. Porque é o "homem-golo" dos dragões e, ao mesmo tempo, é aquele que recua para acrescentar a criatividade que falta no último terço. Ou então aquele que descai para uma das faixas para lhe dar um pouco mais de critério. Se Evanilson é o seu parceiro de ataque predileto (e a inconsistência do brasileiro custou alguns pontos à dupla e, por consequência, aos dragões), a qualidade do iraniano fez-se este ano sentir no jogo da Luz, aparecendo de forma firme no momento decisivo. Tudo gira em torno de Taremi, sendo que o próprio fez por o merecer.
7 Toti Gomes: surpresa ou não
Ponto prévio, pois parece não haver dúvidas: Roberto Martínez não abdica de dois centrais esquerdinos em cada uma das suas convocatórias. Depois de Diogo Leite, eis que chega Toti Gomes e a surpresa acaba por se dissipar na medida daquilo que se vai conhecendo do novo selecionador. Porque, de facto, para além de ser esquerdino, aporta robustez física, velocidade e muita capacidade para os duelos individuais. E, nesse prisma, a leitura pode ainda fazer-se a montante: caso David Carmo "engate" no FC Porto e jogue de forma regular, ficará a um pequeno passo da Seleção Nacional. Porque centrais esquerdinos são como ouro na mina de Martínez.
A renúncia de João Mário
João Mário renunciou à Seleção. Será que vai fazer falta? Sim, e muita! Para além de ter sido um dos obreiros do Euro"2016, qualquer elemento que lê o jogo um segundo antes que todos os outros representa sempre uma mais-valia. Então frente a seleções de patamar superior, não ter a opção João Mário é um handicap.