Nakajima é um samurai renovado no FC Porto
PLANETA DO FUTEBOL - A crónica de Luís Freitas Lobo
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1 - Claro que um jogador não pode hoje estar em campo e só querer entrar no jogo verdadeiramente quando lhe apetece ou quando sabe que se vai divertir (entenda-se este momento como a atacar com criatividade insolente).
O sábio técnico das subidas ensinou-lhe o básico e, então, o japonês começou a perceber que o jogo
Leio os novos dados do jogo de Nakajima pós-sermão de Portimão e registo que é naturalmente positiva essa maior vocação para o momento (ia a escrever trabalho) defensivo. Elogiam-se as maiores recuperações, recuos a fechar e outras ações de... trabalho defensivo, ao mesmo tempo que se vê que solta mais a bola e... finta menos (diverte-se menos, penso eu).
2 - Fico sempre intrigado quando aquilo que devem ser ações naturais se tornam quase em exigências contranatura. Como se estes dados fossem a transformação dum jogador displicente sem bola num novo soldadinho samurai para reagir à sua perda.
Não acho que se corra o risco de Nakajima ficar um jogador diferente, ou seja, que veja coartada a liberdade para criar e surgir entre linhas a desmontar defesas (o que faz dele um jogador diferenciado). Aliás, nada desta transformação é assim tão nova. Vítor Oliveira, quando chegou a Portimão, há três épocas, deparou-se com isso de forma ainda mais evidente. Então, Nakajima nem voltava para trás. Quanto mais defender.
Com o tempo, o sábio técnico das subidas ensinou-lhe o básico e, então, o japonês começou a perceber que o jogo, afinal, também continuava a sério quando a sua equipa não tinha a bola...
3 - O que penso sempre, porém, quando vejo estas exigências defensivas a um avançado é que não sucede o mesmo, em rigor, em relação aos defesas ou médios mais defensivos. Ou seja, é natural esperar de Nakajima que finte em jogadas decisivas um para um e faça golos, e depois exigir que recue para defender, faça recuperações e marque em cima.
Não é natural, porém, nem ninguém iria pensar nisso, pedir, por exemplo, a Danilo ou a Fejsa para, após cortarem, trabalharem na pressão e recuperação, depois também ainda que vão à frente... fintar e inventar jogadas de golo individualmente ou com o seu talento.
Ou seja, a criatividade é algo que existe e ninguém pode dar. A disciplina tática é algo que pode não existir, mas alguém pode dá-la ao jogador. Nunca se pode é, num caso ou no outro, tirar o que jogador tem dentro de si para "SER" (assim mesmo, em maiúsculas) o que é como talento diferenciador dos outros.
A exigência de disciplina termina quando começa a matar a liberdade que faz o futebol (individual com "transfer" coletivo) ser melhor do que outros, no sentido de fazer coisas que mais ninguém faz em campo. O segredo será sempre a consistência do equilíbrio. De quem pensa o jogo e de quem o joga. Treinador e jogador.