Na casa onde falta o pão, ralham todos e ninguém tem razão
PONTAPÉ PARA A CLÍNICA >> Neste cenário de contrariedade (que apesar de tudo é democrático e que por isso não dá a ninguém um direito especial à crítica) exige-se mais do que tudo, como já aqui escrevinhei, vontade. O ar dos tempos é propício à depressão, mas não podemos deixar que a equipa se dê a essa patologia.
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0 adágio de que na casa onde falta o pão, ralham todos e ninguém tem razão tem tanto de antigo, como de sábio. Os vitorianos, após três jogos e outros tantos empates, olham à sua volta e percebem o que podia ter sido e não foi. E descobrem que lhes falta o pão na mesa e que noutras ele é mais abundante. O futebol (como a vida em geral) tem destas coisas: ninguém vive de "ses", do que podia ter sido e não foi.
"Nas vitórias? Obrigadinho, mas aí é bem fácil... Menos lamúrias e mais ação, portanto. Menos olhar para o que podia ter sido e mais olhar para o que ainda pode ser. A nós, adeptos, é-nos devido pelo menos isso"
Mas a matemática mete-nos o "se" pelos olhos dentro: tivéssemos aproveitado os tropeções dos nossos adversários e, podíamos estar em posição privilegiada rumo à classificação europeia. Por isso, quando passamos os olhos pelos comentários espalhados pelas redes sociais (exercício que devemos praticar com moderação, diga-se), vemos muito esse ralhar que tem quase tantos alvos como praticantes: dos jogadores ao treinador, passando pelos dirigentes, vê-se de tudo. A frustração é fácil de entender, para mais quando ao adepto falta até o mais básico dos direitos: aquele de, no próprio estádio, vocalizar o seu descontentamento. E no entanto, temos de reconhecer que estas jornadas já nos fizeram perceber que, sendo embora preferível isto a nada, o que assistimos é já a algo substancialmente diferente de um campeonato com cabeça tronco e membros, amputado que está de público e com um jejum intermédio forçado que tudo baralhou.
Neste cenário de contrariedade (que apesar de tudo é democrático e que por isso não dá a ninguém um direito especial à crítica) exige-se mais do que tudo, como já aqui escrevinhei, vontade. O ar dos tempos é propício à depressão, mas não podemos deixar que a equipa se dê a essa patologia. E por isso, digo já que não é tempo de ralhetes. É tempo de olhar para o que falta jogar, que ainda é muito, e de perceber que nada, mas mesmo nada, está perdido. Tudo está em aberto e ao alcance da nossa mão. Têm de perceber isto os jogadores, mas também o treinador. E temos de perceber isto também nós, os adeptos, apesar de estarmos condenados a sofrer por fora, sem poder vestir a camisola número doze. É que se não é nestas alturas que todos se unem à volta de um objetivo, cabe perguntar então quando é que isso acontecerá. Nas vitórias? Obrigadinho, mas aí é bem fácil... Menos lamúrias e mais ação, portanto. Menos olhar para o que podia ter sido e mais olhar para o que ainda pode ser. A nós, adeptos, é-nos devido pelo menos isso. Mas sobretudo este grupo deve isso a si próprio: poder chegar ao fim e dizer que foi derramada a última gota de suor que tinham no corpo. Porque terminar a época sem ter essa consciência, isso sim, seria trágico e merecedor de todos os ralhetes e mais algum. Acreditem, por isso. Acreditemos todos.