Mudança de figurino da Taça dos Campeões matou equipas portuguesas
<strong>TÁTICA DO PROFESSOR - </strong>O FC Porto foi uma exceção em 2004. Ganhou a prova com um grande treinador e uma grande equipa, que ficaram para a história.
Corpo do artigo
1 - Muito se tem falado da má prestação do Benfica na Champions League, com maior incidência nos últimos anos, em que a desilusão tomou conta dos adeptos. Esta semana, mais uma derrota, agora em França, pôs em perigo a passagem aos oitavos de final. Mas porque é que isto acontece? Há muitas razões, mas uma delas raramente é referida: a mudança de figurino da competição, ocorrida no início dos anos 90. No antigo figurino, só chegavam à Taça dos Campeões as equipas que eram campeãs nos seus países. Nos anos 60, o Benfica esteve presente em cinco finais: 1961, com o Barcelona, 1962 (Real Madrid), 1963 (Milan), 1965 (Inter de Milão), 1968 (Manchester United). Destas cinco, venceu duas, e foi conquistando o mundo, a preferência dos adeptos, o grande impacto internacional, foi crescendo para lá das fronteiras, à custa destes gloriosos anos 60.
O Benfica cresceu e ganhou prestígio mundial com as suas participações na Taça dos Campeões, nos anos 60
É natural que os adeptos tenham saudades destes tempos. A partir do Mundial de 70, a metodologia de treino evoluiu bastante, muito à custa de método vindos do Leste, que Portugal não acompanhou. Perdeu-se, entre os anos 70 e o início dos anos 80, uma das melhores gerações de futebolistas que Portugal já teve. Portugal reapareceu em 1984, ainda com alguns desses jogadores extraordinários, mas já em fim de carreira. Houve, depois, uma mudança profunda na metodologia de treino, uma alteração também na formação de treinadores - e hoje podemos orgulhar-nos do que se fez e se faz a esse nível - e tivemos o FC Porto a conquistar a Taça dos Campeões em 1987 e o Benfica a tentar um ano mais tarde, 20 anos depois da glória, vencer a competição em finais com o PSV (1987/88) e com o Milan (1989/90). A partir do momento em que o figurino mudou, só o FC Porto, em 2004, conseguiu chegar a uma final e vencê-la. mas isso foi a exceção, e veja-se as carreiras que fizeram o treinador, José Mourinho, e os jogadores dessa equipa, Vítor Baía, Jorge Costa, Paulo Ferreira, Deco, Maniche, Costinha... Foi, na realidade, uma exceção protagonizada por uma grande equipa e um grande treinador que entraram para a história do futebol internacional, ou seja, também eles ultrapassaram as fronteiras de Portugal.
2 - A mudança de figurino abriu a possibilidade a outras equipas fortes nos seus países de discutirem a conquista da competição. Ou seja, passámos a ter equipas francesas, inglesas, italianas, espanholas, alemãs, e não apenas o campeão de cada país como antigamente. Ficou muito mais difícil para uma equipa portuguesa atingir a final da Champions, de chegar longe até, porque são mais e cada vez mais fortes os chamados tubarões. Falta ao futebol português dinheiro para comprar melhores jogadores e também - uma coisa está ligada à outra - uma liga mais competitiva que permita às equipas lutar com as mesmas armas quando vão jogar partidas internacionais. A adaptação a uma nova realidade não é fácil, já sabemos, até porque os fortes e poderosos estão cada vez mais fortes e mais poderosos. Chegar até eles é um longo caminho, mas não tenho dúvidas de que isso só acontecerá com estas três realidades conseguidas. mais dinheiro, melhores jogadores e uma liga mais competitiva.