PASSE DE LETRA - Um artigo de opinião de Miguel Pedro.
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O Pedro acabou de fazer 15 anos. Há 5 anos, ofereci-lhe uma camisola do SC Braga, devidamente assinada por todo o plantel, e, desde essa data, o Pedro tornou-se um indefetível adepto do SC Braga, conseguindo contrariar a nefasta influência do próprio pai, um portista assumido, e do padrinho, um envergonhado sportinguista, mas que recentemente acordou do seu sono letárgico de vários anos.
No passado fim de semana, ao celebrar o seu 15.º aniversário, o Pedro e os seus amigos comentavam a difícil vitória bracarense sobre o Moreirense; no meio da discussão futebolística, rematei: "E o próximo jogo é que é, contra o Vitória de Guimarães, o nosso eterno rival, o verdadeiro dérbi..."
Os adolescentes não perceberam bem o que eu queria dizer. Para eles, adeptos bracarenses de há cinco ou seis anos, os rivais eram o Sporting, o FCPorto ou o Benfica. Não percebiam bem porque é que eu demonstrava tamanho entusiasmo pelo jogo contra o Vitória. Nenhum deles considerou o Vitória como um verdadeiro rival, pois, para estes jovens adeptos, a nossa ambição e objetivo é ficar à frente de, pelo menos, um dos três habituais eucaliptos do futebol português. Expliquei-lhes, então, a história e a tradição da rivalidade geográfica entre clubes vizinhos, o especial "acicatamento" dos ânimos dos adeptos em cada dérbi minhoto, que vai muito para além da mera classificação de cada equipa. Não interessa se o Braga ou o Vitória estão em primeiro ou em último lugar, expliquei eu, com a paixão de um adepto sénior.
Estes jogos são quase campeonatos autónomos. Referi, ainda, que Carlos Carvalhal, bracarense de gema, e que nasceu no mesmo ano que eu nasci, sentirá, certamente, este jogo como diferente, como um dérbi especial e histórico, pois desde pequeno que se habitou a viver intensamente esta rivalidade geográfica. Reparei que os adolescentes me olhavam com a estranheza de quem não percebe bem a racionalidade por detrás das minhas afirmações. "Então, e qual é a diferença de jogar contra o Famalicão, ou o Gil Vicente, ou o Moreirense?", perguntavam, tentando desmontar os meus argumentos da proximidade geográfica.
Para estes miúdos, habituados a ver o Braga sempre na parte de cima da tabela, a lutar pelo pódio, a lutar por finais, e jogar na Liga Europa, e a seguir as ligas inglesa, espanhola ou italiana, com o mesmo prazer com que seguem a liga portuguesa, não é racional atribuir valor acrescentado ao grande dérbi minhoto. Percebendo isso, disse-lhes: "Pois bem, este é o jogo mais internacional de todos: o Braga-Vitória vai muito para além do nosso campeonato, pois nesse dia, no estádio, não teremos portugueses. De um lado estarão os "espanhóis" e do outro, os "marroquinos"". Foi então que perceberam tudo...