Mísseis, danos colaterais e o futuro de Custódio
PASSE DE LETRA >> Durante a semana, alguns jornais alertavam para o óbvio: os 10 jogos que o Braga teria que fazer na pós-pandemia iriam decidir o futuro de Custódio à frente do comando técnico da equipa.
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1 - A Crise de Mísseis de Cuba foi um confronto de 13 dias (16 a 28 outubro de 1962) entre os Estados Unidos e a União Soviética relacionado com a implantação de mísseis balísticos soviéticos em Cuba. Ficou conhecida por ter sido a ocasião em que o mundo mais perto esteve da guerra nuclear global. Além disso, foi o primeiro conflito global a ser televisionado. Em plena crise, quando a guerra nuclear estava iminente, um preocupado Presidente Nikita Khrushchev - um moderado do sistema soviético pós-estalinista - inquiriu o veterano general Rodion Malinowsky sobre as vítimas potenciais de um conflito nuclear. Este respondeu-lhe: "São danos colaterais, camarada Presidente". Também o presidente norte-americano John Kennedy, que se opunha a uma escalada na guerra entre os dois blocos do poder mundial, perguntou ao general Curtis LeMay a sua opinião sobre a situação. O militar respondeu-lhe: "Se queremos o poder global, temos que sacrificar alguém; são os danos colaterais necessários para atingirmos um bem maior".
" Vem isto a propósito das declarações de Carlos Carvalhal, após a derrota contra o candidato SL Benfica. Utilizando a ironia, considerou o treinador ter sido "mais um jogo típico do campeonato português", querendo, com isto, referir-se ao facto do seu clube ter sido prejudicado pelas decisões do árbitro"
Vem isto a propósito das declarações de Carlos Carvalhal, após a derrota contra o candidato SL Benfica. Utilizando a ironia, considerou o treinador ter sido "mais um jogo típico do campeonato português", querendo, com isto, referir-se ao facto do seu clube ter sido prejudicado pelas decisões do árbitro. Não vi o jogo e, por isso, nem me pronuncio sobre a arbitragem. Mas compreendo bem o sentimento de Carvalhal após o jogo. Na luta pelo poder entre os três poderosos do futebol português, os prejudicados, ao longo da história do campeonato, tem sido sempre os outros clubes. Não há, julgo eu, uma intenção manifesta em prejudicar os clubes mais "pequenos". São apenas danos colaterais...
2 - Durante a semana, alguns jornais alertavam para o óbvio: os 10 jogos que o Braga teria que fazer na pós-pandemia iriam decidir o futuro de Custódio à frente do comando técnico da equipa. É certo que o início está a ser desastroso (um ponto feito em nove possíveis e a perda do terceiro lugar), ainda mais se compararmos com o que vinha fazendo o Braga do "antes", treinado pelo atual treinador da equipa que acaba de destronar o Braga do pódio. Deixando de lado, para já, as reflexões sobre as questões do "fair play" que o contexto desta contratação terá que implicar (e da ética profissional do próprio treinador), a verdade é que nada está perdido.
"A exibição deste novo Braga em 4x4x2, contra o também rival europeu Famalicão, principalmente no que produziu na segunda parte, deixa algumas esperanças de que o caminho que falta poderá ser mais luminoso."
A exibição deste novo Braga em 4x4x2, contra o também rival europeu Famalicão, principalmente no que produziu na segunda parte, deixa algumas esperanças de que o caminho que falta poderá ser mais luminoso. O Famalicão, que é, como sabemos, uma equipa forte e atrevida, foi encolhida pelo jogo bracarense, e acabou assumidamente feliz com um empate. Mas falta-nos, ainda, a calma e o discernimento necessários para concretizarmos. Paulinho - esforçado e guerreiro - mostra-se ansioso e precipitado; Trincão ainda não está com a confiança que já mostrou. Os laterais ainda parecem presos a uma espécie de incerteza tática (deverão defender mais ou atacar mais?). Mas que este foi o melhor jogo da equipa bracarense após a paragem, disso não restam dúvidas. Só que ainda não é suficiente.