FORA DA CAIXA - Um artigo de opinião de Joel Neto.
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Ontem gostaria de ter tido um amigo húngaro. Ter-lhe-ia contado sobre a quantidade de adeptos de futebol portugueses torcendo contra a seleção nacional.
Fui à lista telefónica: havia um polaco, vários búlgaros, tipos de diferentes ex-repúblicas jugoslavas - húngaro, nenhum. Só não liguei a um alemão ou a um francês porque os imaginei nervosos, à espera do jogo das suas próprias equipas. Todos o teriam achado igualmente absurdo.
Adeptos de futebol portugueses torcendo contra a seleção, repito. Centenas, milhares, dezenas de milhares, talvez até centenas de milhares de adeptos de futebol portugueses torcendo contra a seleção durante 84 longos minutos, provavelmente 89. Por uma razão apenas. Ou um homem: Cristiano Ronaldo.
Porque eles sempre o souberam: não joga nada. Não marca, não passa, não se esforça, prejudica a equipa, é vaidoso. Daí a magia daquele minuto 43. Portugal ao ataque há muito tempo, lance pela esquerda, bola palpitante em frente à baliza - e remate por cima. Melhor ainda: remate de Ronaldo. E, enfim, uma explosão de alegria um pouco por todo o país. Dedos apontados aos ecrãs. Dentes rangendo. Os peitos aos saltos: eu sempre disse!
Um pouco por todo o país, mas não em todo o país. Os adeptos de futebol, mas não os portugueses. Porque, felizmente, os portugueses celebram a alegria e celebram a esperança. E celebraram-nas, afinal: num golo de Raphael Guerreiro e em dois de Ronaldo - como a teriam celebrado num de outro jogador e em dois de outro ainda.
Os ditos adeptos, esses, limitaram-se a torcer o nariz: não fez mais do que a sua obrigação. Para já, ficam à espera. Há dezoito anos que dizem que Ronaldo não joga nada. O tempo dar-lhes-á razão. Um dia: é fatal. E talvez até já nem esteja assim tão longe quanto isso, o dia. Mas ainda não será desta vez - os húngaros, ao menos, já o perceberam.
